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Crise seca doações à ajuda humanitária

Com aperto financeiro global, principais organizações internacionais alertam para redução de recursos em 2012

Orçamento brasileiro para assistência humanitária também sofre corte e será 40% menor no ano que vem

CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

Com o avanço da crise da dívida na Europa, há aperto dos governos e cautela nos mercados do mundo todo. Em protesto, as pessoas saem às ruas da Grécia, Itália, Espanha. O lado B da recessão, porém, faz menos barulho: doações às organizações internacionais humanitárias estão sendo cortadas. Aos milhões de dólares.

Na prática, milhares de pessoas em risco irão receber menos proteção e assistência médica e alimentar em 2012, em lugares como Afeganistão, Somália e até no Brasil.

O alerta foi feito pelo presidente da organização Médicos Sem Fronteiras, em visita ao Brasil no final de novembro. "A crise já está afetando nossas operações e pela primeira vez foi suspensa uma rodada do Fundo Global", afirmou Unni Karunakara, durante coletiva de imprensa em São Paulo.

Agendada para novembro, a 11ª rodada de doações do Fundo Global para Aids, Tuberculose e Malária foi cancelada por falta de recursos e doadores. Criada há 10 anos, a iniciativa financia projetos de saúde em 150 países, que salvam 100 mil vidas por mês.

Especialistas esperavam em alguns anos um recuo histórico da epidemia de HIV no mundo. Agora, uma crise no caminho ameaça um retrocesso da situação.

De Londres, o porta-voz da ONG Oxfam, com Orçamento anual de € 890 mi, também ecoou o alerta. "Estamos muito preocupados com a situação financeira global, prevemos uma estabilização das doações nos próximos anos", disse Matt Grainger à Folha.

A dificuldade atinge da mesma forma a Cruz Vermelha, cujo orçamento de 2011 é de € 785 mi. Há dois meses, a diretora da organização, Angela Gussing, informou que foram reduzidas operações no mundo todo.

Ela desembarcou no Brasil para pedir que o país mantenha sua ajuda à entidade e colabore com mais. Em 2010, o Brasil doou US$ 1 milhão ao CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha).

A organização ainda aguarda uma resposta do Brasil, mas segundo Milton Rondó, coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do Itamaraty, "a tendência é aumentar um pouquinho [o valor]", com um adicional de US$ 200 mil.

Mas ele destaca que o próprio orçamento brasileiro para assistência humanitária sofreu cortes. Segundo Rondó, a previsão para 2012 é de um desembolso de R$ 18 milhões - 40% menor do que em 2011 para transferência de recursos a organismos internacionais e embaixadas.

O Brasil também prometeu doar 710 mil toneladas de alimentos em um ano, mas apenas 150 mil toneladas foram enviadas para o exterior.

Isso porque o transporte fica a cargo de parceiros como EUA e Espanha, no "olho do furacão" da crise. "A gente já sente o impacto", disse Rondó.

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