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Crise provoca bate-boca entre europeus

Líderes de países do bloco seguem trocando farpas, enquanto cenário econômico no continente fica ainda pior

Agência que classifica risco vê acordo distante e ameaça rebaixar nota de crédito de sete países da zona do euro

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Uma semana após a cúpula considerada "histórica" na União Europeia e com a região rumando para uma recessão, líderes europeus subiram o tom de críticas mútuas, deixando claro que estão longe de qualquer entendimento para barrar a crise.

Enquanto isso, mais más notícias para a Europa: o acordo de perdão da dívida da Grécia travou em Paris por conta de alguns credores e foi divulgado que a dívida da Espanha cresceu 15% em um ano, para 66% do PIB.

A Fitch Ratings também advertiu que um acordo parece "distante" e que há tendência negativa para as dívidas da França e de outros seis países da zona do euro.

No campo retórico, os franceses tentaram, pelo segundo dia, desviar a atenção de seus problemas para o Reino Unido. Já a Itália criticou a Alemanha e a atitude da chanceler Angela Merkel de cobrar austeridade a todo custo do resto dos europeus.

Novos indicadores mostram que a França já pode estar em recessão e que deve se recuperar apenas lentamente em 2012. O país está ameaçado de perder a nota máxima "AAA" para a classificação de sua dívida pública.

Mas François Baroin, ministro das Finanças francês, dirigiu as baterias para o outro lado do canal da Mancha.

"A verdade é que a situação do Reino Unido é muito preocupante. Hoje em dia, qualquer um prefere ser francês a ser britânico no nível econômico", disse Baroin.

Um dia antes, o presidente do Banco da França, Christian Noyer, havia dito que as agências de classificação de risco deveriam considerar o rebaixamento da nota do Reino Unido antes da francesa.

O vice-premiê britânico, Nick Clegg, recebeu telefonema do primeiro-ministro francês, François Fillon, que teria tomado a iniciativa de procurá-lo para "dissipar mal entendidos". Mas, em comunicado, Clegg disse que os comentários franceses eram "simplesmente inaceitáveis".

Já o premiê britânico, David Cameron, levou a guerra da economia para a religião. Em cerimônia numa catedral em Oxford, deu a entender que britânicos são mais tolerantes que franceses. "Muitos me dizem que é bem mais fácil ser judeu ou muçulmano aqui no Reino Unido do que em um país secular como a França", afirmou.

Na Itália, o primeiro-ministro Mario Monti criticou a Alemanha, dizendo que o governo de Angela Merkel está dividindo o continente com sua estratégia "de fome por rigor fiscal". "A construção europeia deve ser orientada para um caminho de união, não de divisão", disse Monti. Ele acrescentou que o ajuste deveria ser feito a "longo prazo" e de modo "sustentável".

Monti recebeu ontem um voto de confiança do Parlamento para novos cortes e aumento de impostos que ainda dependem do Senado.

Mas entidades sindicais italianas alertaram para uma "explosão social" no país caso sejam adotadas as novas medidas de austeridade.

A Alemanha lidera a pressão sobre países considerados "pecadores" do ponto de vista fiscal para que reduzam suas dívidas. E defende punição automática se ultrapassarem certos limites.

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