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Brasil quer Coreia do Norte mais próxima

Política em relação a regime de Pyongyang é de "não isolamento"; Itamaraty diz acreditar em potencial da parceria

Apesar do otimismo diante da sucessão no país asiático, comércio bilateral registra o pior resultado em 15 anos

CAROLINA MONTENEGRO
ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

O governo brasileiro quer aumentar o diálogo com Pyongyang, seguindo com a política de "não isolamento" para o país, após a morte do ditador Kim Jong-il. A ideia é "ajudar na abertura" da Coreia do Norte e explorar o potencial do comércio bilateral e possíveis parcerias, como em biocombustíveis.

Contribuirá para isso o envio, no início de 2012, de um novo embaixador a Pyongyang. Brasil e Cuba são os únicos dois governos latino-americanos que possuem embaixadas permanentes lá.

"O Brasil, por ter uma política externa independente, está em condições de ajudar a Coreia do Norte na abertura", disse Roberto Colin, 58, futuro embaixador em Pyongyang, durante sabatina no Senado, em 24 de novembro.

Até então ministro-conselheiro em Berlim, ele já foi aceito pelos norte-coreanos.

A vontade política, porém, parece ainda não se refletir no comércio, que, em 2011, deverá ser o menor dos últimos 15 anos. Até novembro, a soma era inferior a US$ 60 milhões. Desde 1997, o comércio bilateral não fechava o ano em menos de US$ 110 milhões. No mesmo período, a balança do Brasil com a Coreia do Sul aumentou quase sete vezes.

A diferença deve-se, sobretudo, à falência da economia do país e ao isolamento político de Pyongyang.

A sucessão política, contudo, cria expectativas de mudanças. "A morte de Kim Jong-il cria um certo vácuo, porque internamente ele tinha reconhecimento. Há incerteza, mas não instabilidade. Questiona-se neste momento se haverá mais abertura", afirmou Alexandre Uehara, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP.

Para além do cenário comercial, "o momento de transição na Coreia do Norte é de esperança, mas também de apreensão", segundo Camila Asano, coordenadora de política externa da ONG Conectas Direitos Humanos.

"É importante que a comunidade internacional e o Brasil estejam vigilantes à grave situação de direitos humanos no país", disse à Folha.

O Brasil tem fornecido ajuda humanitária ao país -nesta semana, foram enviadas 16,5 mil toneladas de milho (no valor de US$ 4 milhões)-, mas também endureceu a postura sobre as violações de direitos humanos pelo regime.

Até 2009, o país se absteve nas votações da ONU contra a Coreia do Norte. Mas, em 2010 e 2011, apoiou resoluções do Conselho de Direitos Humanos para renovar o mandato do relator para o país.

O governo brasileiro pede que Pyongyang se reintegre ao TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), e em 2009, "condenou veementemente" um teste nuclear do país.

"Procuramos seguir à risca o Conselho de Segurança por acharmos que o futuro daquela região está na desnuclearização", disse o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes.

O Brasil acredita poder investir numa parceria em biocombustíveis, enquanto os norte-coreanos querem partilhar sua expertise em ferrovias.

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