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Custo do trabalho pesa contra a Europa

Alemanha é o único entre os grandes países a ter superavit em suas transações com outras economias da região

Desde a criação do euro, salários cresceram mais nas nações que atualmente enfrentam as maiores dificuldades

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

As consequências da crise na zona do euro só estão começando para a maioria dos países. Além do longo ajuste no endividamento, os governos terão de perseguir considerável redução no custo do trabalho, atualmente favorável à Alemanha.

Desde a criação do euro, o custo da hora de trabalho cresceu mais rapidamente justamente nos países hoje em maiores dificuldades.

Na Grécia, que negocia um calote para sua dívida, os rendimentos do trabalho subiram a uma velocidade mais de duas vezes superior à da Alemanha na última década.

Na Itália, a variação média foi de 3,3% ao ano entre 2000 e 2011, ante 1,5% na Alemanha. No mesmo período, por conta de uma produtividade maior, as exportações alemãs cresceram, em média, 5,2% ao ano. Na Itália, 3%.

As economias dos países mais encrencados são também as mais "pesadas" em termos de custo de mão de obra e as menos produtivas da Europa.

A Alemanha ainda paga um dos maiores valores por hora a seus trabalhadores, € 31, mas está atrás da França, que dá € 34,5.

Mesmo assim, o que importou para os alemães foi o fato de, nos últimos dez anos, eles terem aumentado menos o custo do trabalho relativamente aos demais.

Até a crise, isso ficou "mascarado" pelo euro. Ele deu aos países a chance de se endividar e consumir mais.

A Alemanha é um dos poucos grandes países da zona do euro considerados totalmente sólidos hoje. Não porque tenha um nível de endividamento muito baixo (ele equivale a 82% do PIB). Mas porque cresce e é mais produtiva que os demais.

A Alemanha também é o único entre os grandes a ter superavit em suas transações com outros países. Espanha, Itália e mesmo França "rodam" no vermelho.

Por ter aumentado sua produtividade e mantido os custos com a mão de obra sob controle, a Alemanha foi quem mais se beneficiou com o euro, e hoje exporta quase a metade de seus produtos para a região. O país é o terceiro maior exportador do mundo, atrás de China e EUA.

Antes do euro, as moedas locais dos menos produtivos e com deficit acabavam perdendo valor. Isso era uma compensação, pois tornava seus produtos mais baratos no exterior, incrementando a produção para exportação.

Com o euro, isso não é mais possível. E o ajuste nos países será mais dolorido, via redução do custo do trabalho.

35 HORAS

Em 2008, perseguindo maior competitividade, a França já havia eliminado o limite de 35 horas semanais de trabalho no país.

As empresas também tem endurecido nas negociações com sindicatos, a fim de cortar gastos com mão de obra.

Boa parte do serviço público de Roma e dos funcionários da espanhola Ibéria parou na semana passada contra a ameaça de perda de benefícios.

Na França, havia manifestações marcadas para o início desta semana.

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