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Clóvis Rossi

Papai Noel, devolva a esperança

É um artigo em falta, neste Natal, um pouco por toda a parte (menos no Brasil)

Vou pegar carona despudoradamente em Juan Arias, correspondente no Brasil do jornal "El País", em artigo publicado na sexta-feira: "Se a palavra, às vezes vazia, mas a mais pronunciada, cantada e escrita esses dias natalinos é a palavra paz, este ano poderíamos substituí-la ou acrescentar a ela outra não menos importante: esperança".

Para que o leitor entenda o contexto, é bom acrescentar que Arias não é apenas um jornalista, não é apenas o correspondente em um país emergente, mas ainda remoto (com o qual, diga-se, ele é mais condescendente do que eu), mas um escritor brilhante, um vaticanista de primeira linha e o que antigamente a gente chamava de católico engajado (ex-seminarista também).

Beber em boas fontes justifica, acho, a falta de pudor em citá-las.

Até porque se há algo que marca a fogo esta época natalina é a supressão da esperança, um pouco por toda a parte.

No mundo árabe, a "primavera" alvissareira está sendo substituída por um rigoroso inverno, até nos países a que a estação da esperança não chegou, como Iraque, mergulhado em um ajuste de contas entre a maioria xiita e a minoria sunita.

É eloquente que a antevéspera de Natal tenha sido marcada por atentados cruentos tanto na Síria como no Iraque. Ok, são países muçulmanos e, como tais, distantes da tradição cristã. Mas, se até o Irã tem uma rua que festeja o Natal, como mostrou sexta Samy Adghirni, talvez a melhor promessa de repórter entre os jovens, é evidente que o espírito natalino tem uma universalidade que supera fronteiras religiosas.

Pena que a universalidade se deva muito mais à propaganda consumista do que à mensagem de paz.

Mudemos de região. Na Europa, a grande marca de todos os planos recentes e não tão recentes é a de ter tirado do cardápio a esperança. Só os mais empedernidos otimistas esperam que 2012 seja melhor que 2011, que já não foi propriamente brilhante.

Na China, há especialistas que antecipam o começo do fim do espetáculo do crescimento, como escreve Patrick Chovanec, professor da Escola de Economia e Gerenciamento da universidade Tsinghua: como consequência do estouro da bolha imobiliária, "grande parte da economia do país está em convulsão, enquanto manda ondas de choque a toda a economia global".

Para não mencionar os 180 mil "incidentes" deste ano, na linguagem com a qual o regime trata protestos e manifestações.

Na Rússia, depois dos protestos recentes, até o presidente Dmitri Medvedev admite que o sistema político "se exauriu", o que significa que é inevitável uma transição -e transições costumam ser dolorosas.

O Brasil, como é óbvio, não pode ser uma ilha de tranquilidade em meio à tormenta. Mas é forçoso reconhecer que, nesses trópicos que já foram muito tristes, a esperança não saiu do ar. Com todas as denúncias de corrupção, com o Judiciário fechando-se em uma caixa-preta, com a desaceleração econômica em parte importada da crise externa -com tudo isso, o desemprego caiu para 5,2%, o menor nível para novembro desde 2002. E quem tem emprego, tem esperança. Feliz Natal, portanto.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Rubens Ricupero

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