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Funcionário dos EUA governou a Somália

Ex-primeiro-ministro licenciou-se de Departamento de Transporte durante oito meses

JOHN LELAND
DO “NEW YORK TIMES”

"A cada manhã, quando estava escovando os dentes, ouvia as balas se chocando contra o metal que protegia minha janela", diz Mohamed.

Por oito meses, ele foi primeiro-ministro de seu país natal, a Somália, uma das nações mais caóticas do planeta. E então, tão subitamente quanto havia partido, retornou ao seu cubículo no Departamento do Transporte de Buffalo, onde sua função é garantir o cumprimento das normas de ação afirmativa e não discriminação.

Mohamed, 49, que vive nos EUA desde 1985, disse que não tinha planos de se tornar parte do governo somali quando amigos o ajudaram a marcar uma reunião com o xeque Sharif Sheik Ahmed, o presidente do país, em setembro de 2010. Ele conta ter conversado com o presidente sobre como as facções do governo poderiam cooperar, aproveitando sua experiência de trabalho com fornecedores rudes no condado de Erie.

Tão logo ele retornou a Buffalo, conta, os amigos ligaram para dizer que o presidente havia gostado de suas ideias -será que ele estaria interessado em encaminhar seu currículo para seleção como primeiro-ministro?

"Minha mulher não gostou muito da ideia", disse. "Mas eu perguntei a ela quem aceitaria a missão, se eu não o fizesse? Disse que a violência é causada por conflitos, e que eu havia aprendido a resolver conflitos. É exatamente isso que faço em meu trabalho."

Richard Downie, diretor assistente do programa de estudos africanos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, disse que, por causa do êxodo de profissionais liberais somalis, emigrados são ocasionalmente convidados a ocupar altos cargos.

Um chefe de estado-maior nas Forças Armadas somalis trabalhava como subgerente em um McDonald's na Alemanha, conta Downie.

O salário de primeiro-ministro era igual ao que Mohamed recebia no Departamento do Transporte, do qual se licenciou por um ano.

Ele cresceu em Mogadício, a capital somali, filho de um administrador na companhia de aviação do governo. Começou a trabalhar para o Ministério do Exterior em 1982, e foi transferido a Washington em 1985. Após criticar o governo de seu país, em 1988, solicitou asilo nos EUA.

Como primeiro-ministro, Mohamed montou um gabinete de tecnocratas para dirigir o país, reduzindo o ministério de 39 para 18 integrantes, a maioria, como ele, vindos do exterior. Combateu a corrupção e criou uma folha de pagamentos regular para as Forças Armadas.

Uma disputa pelo poder acabou derrubando o primeiro-ministro. Em junho, Mohamed estava de volta a Buffalo. "Meu emprego aqui era algo a que eu poderia retornar caso a experiência na Somália não desse certo", diz.

Mohamed diz que está apreciando não ter de olhar em torno de si em busca de possíveis assassinos e poder viver em casa com a mulher e os quatro filhos.

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