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Minha história Anita Antonio, 28

Nas garras dos coiotes

RESUMO
A haitiana Anita Antonio chegou na véspera de Natal a Brasileia, fronteira de Acre e Bolívia. Entrou ile galmente no Brasil após viajar por por dez dias com o filho Wilson, de dez meses. No caminho, foi roubada por "coiotes" (atravessadores) bolivianos. Agora tenta regularizar sua situação para ir ao encontro do marido, que vive em Manaus.

GUSTAVO HENNEMANN
ENVIADO ESPECIAL A BRASILEIA

Haitiana conta o medo que passou nas mãos de atravessadores bolivianos até conseguir entrar ilegalmente no Brasil, pelo Acre

Embarquei rumo ao Brasil com o meu filho Wilson, de dez meses, apenas com anotações do roteiro que meu marido passou. Ele fez essa viagem antes de mim e agora está em Manaus me esperando, mas não sabe o que eu passei para chegar até aqui.

Sou de Jacmel, na costa sul do Haiti, e já morava havia oito anos na República Dominicana. Embarquei num avião em 14 de dezembro.

Fui até o Panamá e depois peguei outro voo até o Peru. De Lima, tomei um ônibus até Cusco, outro até Puerto Maldonado e mais um até Iñapari, na fronteira com a Bolívia e com o Brasil.

Lá fiquei num hotel onde estavam hospedados outros 21 haitianos com o mesmo objetivo: tentar a vida no Brasil.

O dono me apresentou a um boliviano coxo que se chama Thomaz. É o chefe de um grupo de coiotes que cobrou US$ 150 para supostamente me deixar no Brasil.

No mesmo dia, dois homens do Thomaz vieram buscar a todos nós e nos levaram para uma casa grande e velha em Iberia, logo antes da fronteira com a Bolívia. Ficamos lá uns dois dias. Assustavam a gente dizendo que a fronteira era perigosa e que tínhamos de esperar o momento certo para cruzar.

Antes de sairmos, pediram nossos celulares, laptops e câmeras. Disseram que iriam nos devolver na entrada do Brasil, para que policiais não nos tomassem no caminho.

Embarcamos à noite na carroceria de um caminhão, que se meteu numa estradinha de terra.

Três horas depois, oito homens encapuzados, armados de pistola, nos pararam. Obrigaram a gente a descer, colocaram os homens deitados com as mãos amarradas para trás e nos revistaram. Um de nós perdeu US$ 1.200. Eu entreguei o que tinha, não passava de US$ 300.

Depois, ainda cortaram nossas malas com uma faca e ficaram com as roupas novas que trazíamos. Um dos haitianos levantou a cabeça e tomou uma coronhada.

Antes de sumirem, esvaziaram os pneus do caminhão. Ouvimos um assobio e dois minutos depois apareceu um grupo de bolivianos.

Tivemos a impressão de que eram os mesmos que haviam nos assaltado. Tiraram as máscaras e voltaram. Não falei nada, tive muito medo.

Disseram ser amigos do Thomaz e deram ajuda para nos guiar até a fronteira. Sem saída, fomos com eles.

Trouxeram carros pequenos e fomos em grupos de cinco até Cobija. Quando me deixaram, estava sem dinheiro, sem minhas roupas boas e máquina de fotos. Desesperada, caminhei sem rumo e parei uma senhora boliviana na rua. Essa mulher nos deixou ficar e deu de comer para mim e para meu filho.

De manhã, entrei no Brasil cruzando a ponte caminhando. Agora só quero tirar os documentos para conseguir sair daqui e ir para Manaus.

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