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Pilotos de 'voos da morte' enfrentarão Justiça argentina

Crimes cometidos durante a ditadura serão julgados em 2012 graças a dados e fotos recém-revelados no país

Principais acusados pilotavam os aviões que jogavam prisioneiros políticos, muitas vezes vivos, no rio da Prata

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Os julgamentos dos crimes cometidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983), que estão sendo promovidos como política de Estado pelo governo Cristina Kirchner, colocarão no banco dos réus os responsáveis pelos "voos da morte".

Os acusados de pilotar aviões que jogavam no rio da Prata prisioneiros políticos enfrentarão os tribunais em 2012. Alguns já foram condenados em primeira e em segunda instância.

O processo ganhou novos elementos no último mês, quando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos entregou à Justiça argentina 130 fotos de vítimas desses voos. Também foram fornecidos mapas que indicavam onde os corpos foram encontrados -a maior parte deles em praias uruguaias.

As fotos tiveram ampla repercussão no país por serem a primeira prova visual concreta da existência dos voos.

O material, agora entregue ao juiz Sergio Torres, será cruzado com informações obtidas a partir de planilhas de voos descobertas e reveladas no ano passado pela jornalista Miriam Lewin.

O objetivo é determinar quem são os desaparecidos, suas datas de morte e a identidade de seus assassinos.

As imagens apresentam sinais de tortura e violência. Os corpos têm as mãos e as pernas atadas; alguns apresentam sinais de balas. Foram encontrados ainda com alguns deles documentos pessoais e moedas argentinas.

Os voos da morte foram comuns na ditadura. Os prisioneiros, na maioria vindos da Esma (Escola Mecânica da Armada, centro de detenção ligado à Marinha), eram levados em grupos de 20 a 30 pessoas, em voos noturnos, e arremessados às águas.

Segundo estimativas, cerca de 3.000 pessoas morreram desse modo. Os militares davam às operações o nome eufemístico de "traslados".

MÃES DE MAIO

Os casos mais famosos vieram à tona em 2005, quando a Equipe Argentina de Antropologia Forense identificou cadáveres encontrados em 1977 na costa argentina.

Revelou-se que se tratava de um grupo de mulheres que integravam as Mães da Praça de Maio e que haviam sido sequestradas em dezembro daquele ano: Azucena Villaflor, Angela Aguad, Esther Ballestrino e María Ponce, além da freira Léonie Duquet.

Um dos crimes mais bárbaros da ditadura, o sequestro e morte do grupo foi fruto de operação liderada por Alfredo Astiz, oficial da Marinha conhecido como "O Anjo Loiro da Morte" e recentemente condenado pela Justiça argentina à prisão perpétua.

O cruzamento de informações dos peritos com as das planilhas de voo obtidas por Lewin em 2010 permitiu rastrear os pilotos responsáveis pela desaparição do grupo.

Em junho último, o juiz Sergio Torres ordenou a prisão preventiva do oficial Alejandro Domingo D'Agostino e de dois funcionários da Aerolíneas Argentinas, que então ainda estavam na ativa, Enrique José de Saint Georges e Mario Daniel Arru.

Os três responderão a processo na Justiça argentina por crimes de lesa-humanidade.Por essa mesma causa, já está preso na Espanha o repressor da Esma Adolfo Scilingo, cujo depoimento serviu de base ao livro "El Vuelo", do jornalista Horacio Verbitsky.

Ontem, a Justiça argentina divulgou que, ao todo, 83 pessoas foram condenadas em 2011 por crimes cometidos durante a ditadura militar.

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