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Análise

Os eleitores são culpados pela crise do euro, não os políticos

PHILLIP INMAN
DO “GUARDIAN”

Um tema que percorre a cobertura da problemática zona do euro é a suposta incompetência, indecisão e terrível falta de liderança de autoridades e políticos que deveriam resolver a situação.

É claro que os políticos, como os banqueiros, têm a capacidade de agravar a situação -e a aproveitam. Mas eles não são a causa do problema -são um sintoma.

O torniquete aplicado à máquina de Bruxelas é apertado pelos eleitores, não pelos políticos. Quer sejam alemães recusando-se a compartilhar com gregos, quer sejam gregos ricos recusando-se a compartilhar com seus conterrâneos, a crise é um caso de democracia em ação.

O problema está no desenvolvimento demográfico das décadas recentes, graças ao qual muitos eleitores têm mais de 55 anos e conservam a riqueza ganha no "boom".

Mesmo quem perdeu uma parcela grande de suas pensões continua a votar em políticos que prometem fazer tudo o que puderem para proteger o que restou dos outros ativos desses cidadãos.

Os retornos sobre aquisições de títulos de dívida, embora estejam sob a pressão dos rebaixamentos de classificação, ainda estão protegidos, especialmente quando os títulos são emitidos por governos ou bancos (a Grécia constitui a única exceção).

Políticos seniores da União Europeia lançaram um plano de "austeridade fiscal leva a crescimento" porque isso parece agradar a esse público. Muitos políticos compreendem que o plano terá efeito inverso ao desejado. Mas eles não passam de agentes dos eleitores mais velhos e ricos, que veem os preços dos ativos sob ótica de curto prazo.

Há um argumento forte em favor de culpar a comunidade financeira por ter ludibriado políticos e "baby boomers" ricos para que acreditem que mais um giro na roleta trará de volta as glórias passadas.

Os banqueiros reagem a um veio fértil de medo e cobiça do qual não logram se desgrudar os eleitores mais velhos, que não abrem mão de seus sonhos de lazer e riqueza do pós-guerra.

Os políticos se debatem, tentando agradar a esse público. Eles merecem todas as pauladas que recebem. Mas não são eles a causa do problema.

Tradução de CLARA ALLAIN

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