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Chile desiste de apagar 'ditadura' Pinochet

Ministro da Educação afirma que governo vai rever a decisão de chamar período do general de "regime militar"

Mudança anunciada para livros escolares havia provocado forte repercussão negativa no país e no exterior

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O ministro da Educação do Chile, Harald Beyer, anunciou que o governo enviará ao Conselho Nacional de Educação nova proposta para tratar o período da ditadura militar (1973-1990) no país.

Na última quarta-feira, o ministério havia anunciado que o termo "ditadura" seria substituído por "regime militar" nos textos de história destinados a alunos do ciclo básico, ou seja, de 6 a 12 anos.

A medida causou forte repercussão negativa entre professores, intelectuais, políticos da oposição e representantes de entidades de direitos humanos, além de ser notícia em jornais estrangeiros.

A ditadura chilena, liderada pelo general Augusto Pinochet após o golpe contra o governo de Salvador Allende, deixou um saldo de 3.000 mortos, segundo estimativas.

O recuo foi decidido após uma reunião de Beyer com o presidente Sebastián Piñera e outros ministros, na noite de quinta-feira, no Palácio de La Moneda, segundo informou o site do jornal chileno "La Tercera".

CONTROVÉRSIA

O ministro disse que a nova proposta terá como objetivo "resolver a controvérsia nesse aspecto", mas não ofereceu mais detalhes sobre como isso será feito.

Beyer reforçou que o Executivo "nunca pretendeu desconhecer o caráter não democrático do regime militar e as violações de direitos humanos que então ocorreram".

Justificou-se, ainda, dizendo que a proposta de deixar de usar a palavra "ditadura" havia sido amplamente debatida com representantes de vários partidos políticos e com professores.

A ideia foi formulada no ano passado e aprovada pelo conselho em dezembro.

Para o cineasta Andrés Wood ("Machuca"), é difícil entender como a medida passou estando fora do Chile.

"Só mesmo conhecendo o modo como se deu nossa transição à democracia, de modo pactuado entre a ditadura e os partidos políticos, é possível ter uma ideia", disse à Folha.

"Muita gente que trabalhou com Pinochet tem hoje cargos políticos, e esse tipo de medida vem de um ambiente assim, em que uma ideia como esta não parece absurda", concluiu.

O episódio marca mais uma etapa de desgaste para o governo do conservador Piñera. No ano passado, revoltas de estudantes de segundo grau levaram multidões às ruas e fizeram com que o presidente reavivasse leis da época da ditadura para contê-las.

Com agências de notícias

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