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Análise

Versão de rocha fora das cartas náuticas é muito improvável

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

O advogado do comandante do navio Costa Concordia vai ter que encontrar melhores argumentos para defender seu cliente. A desculpa de que o navio bateu em uma rocha não marcada nas cartas náuticas é teoricamente possível; mas, na prática, altamente improvável.

O erro humano parece ser a óbvia explicação do naufrágio, pois o comandante Schettino ordenou uma temerária mudança da rota segura, planejada e gravada no equipamento de navegação.

O Mediterrâneo é um dos mares mais navegados do planeta desde a Antiguidade e, portanto, um dos mais bem cartografados pelas Marinhas mais eficientes da Europa.

O equipamento eletrônico permite segurança quase total à navegação -excetuando, claro, o erro humano.

Basta ter em mente que o número de acidentes com aviões ou trens é muito maior; o caso do Costa Concordia impacta não só pelas imagens dramáticas e pela perda de vidas, mas também por ser tão raro, quando se nota que neste minuto há dezenas de milhares de navios cruzando em segurança os oceanos.

Certa vez, um jornalista (não fui eu) perguntou a um engenheiro naval o que aconteceria se todos os sistemas de navegação e motores parassem de funcionar. "Continuaríamos flutuando. E se você estivesse em um avião nessas mesmas condições?", respondeu o engenheiro.

Um navio moderno como o naufragado usa cartas náuticas eletrônicas, mas também tem versões em papel como backup. A rota do navio é constantemente mostrada em tempo real no chamado "Electronic Chart Display and Information System" ou ECDIS -"sistema de informação e exibição de carta eletrônica". A posição do navio é constantemente plotada na carta pelo sistema de posicionamento de satélite GPS.

A tripulação agiu corretamente ao salvar a esmagadora maioria dos passageiros; nem de longe o desastre se compara ao do Titanic. Já o fato do navio ter tombado de lado é mais difícil de explicar, pois poderiam ter sido usadas bombas para inundar compartimentos do casco para permitir um afundamento menos arriscado.

O passadiço tem oficiais e marinheiros durante 24 horas. Os instrumentos estão sempre sendo monitorados. Alarmes soam se o navio sai da rota ou se a costa ou o fundo do mar se aproximam perigosamente. Schettino e seu advogado vão ter que melhorar a defesa.

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