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Análise

Discurso de Gingrich é o de proteger a 'América clássica' das elites pró-Obama

JULIA SWEIG
ESPECIAL PARA A FOLHA

A maioria dos americanos nunca ouviu falar de Saul Alinsky -os brasileiros, muito menos. Mas, com Newt Gingrich (possivelmente por pouco tempo) liderando a disputa pela nomeação republicana, é bom aprender.

Alinsky foi filho de judeus ortodoxos vindos da Rússia. Nascido e criado na era da depressão em Chicago, forjou uma ferramenta de participação política de grupos marginalizados, conhecida como "organização comunitária".

Seu trabalho nos bairros negros de Chicago e Oakland inspirou figuras nacionais da esquerda não comunista, como Hillary Clinton (que escreveu sua tese de graduação sobre ele) e Barack Obama.

Antes de morrer, em 1972, Alinsky disse à "Playboy": "A transformação social radical terá que ser focada na classe média branca, pela simples razão de que é nela que se encontra o verdadeiro poder".

Como seu contemporâneo Richard Nixon, para quem essa "maioria silenciosa" era capaz de formar ou quebrar o equilíbrio do poder político no país, Alinsky via a classe média relativamente nova e crescente da América do pós-guerra como a mais vulnerável à demagogia populista.

Ele queria ajudar a organizar seus membros, para fomentar seu bem-estar material e social. Hoje, proposta relativamente modesta.

No discurso de Gingrich no último fim de semana, depois de vencer a primária da Carolina do Sul, ele descreveu a eleição presidencial como uma opção entre "o radicalismo de Saul Alinsky e a excepcionalidade americana".

O subtexto de seu discurso: que apenas Gingrich poderá proteger o que chamou de "a América clássica" -o Tea Party e outros eleitores republicanos- contra os judeus, os negros e "as elites de mídia de Washington-Nova York" da América de Obama.

Embora a excepcionalidade americana seja largamente criticada fora dos EUA, para a base cristã e em grande medida branca de Gingrich, a frase evoca acordes existenciais: os americanos teriam sido escolhidos por Deus, e seu experimento nacional especial seria moralmente superior a outros países; logo, seria teologicamente necessário que os americanos funcionem como luz para iluminar outras nações.

Quer seja o destino manifesto no século 19, a indispensabilidade no século 20 ou os ataques preventivos no século 21, democratas e republicanos estão de acordo, em grande medida, quanto ao lado positivo da excepcionalidade americana.

São raros os ocupantes de cargos públicos que têm coragem de sugerir que os dois pesos, duas medidas e o desrespeito pela lei internacional que frequentemente definem a política externa podem, na realidade, prejudicar os interesses americanos.

Embora Clinton e Obama, estudante e discípulo de Alinsky, reconheçam que os EUA precisam de parceiros para fazer frente aos desafios globais múltiplos, ambos explicitamente juraram fidelidade ao cânone da excepcionalidade americana.

Alinsky é uma figura relativamente obscura na história dos EUA no século 20, consignado, até a campanha de 2008, à arqueologia de uma esquerda americana hoje em grande medida desmoronada. Entendo a atração de converter meu conterrâneo de Chicago em adjetivo.

Mas o racismo e o antissemitismo codificados na frase de outro modo risível de Gingrich são exatamente o tipo de tolerância marginal de algo impróprio que pode enfraquecer as ambições do Partido Republicano em 2012.

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