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Dilma tem de ouvir oposição, diz blogueira

Dissidente cubana Yoani Sánchez diz que visita de presidente semana que vem não pode ser só "tapete vermelho"

Ela obteve anteontem visto do Brasil para vir ao país, mas depende ainda de autorização cubana para sair

Divulgação
Yoani dá depoimento ao cineasta Dado Galvão, diretor de documentário, em 2009, em Cuba
Yoani dá depoimento ao cineasta Dado Galvão, diretor de documentário, em 2009, em Cuba

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

A blogueira cubana Yoani Sánchez espera que a presidente Dilma Rousseff escute "a maravilhosa diversidade de vozes cubanas" na visita que fará a Cuba na próxima terça e que esteja tão preocupada com os investimentos brasileiros na ilha quanto com os direitos dos cidadãos cubanos comuns.

"Que essa visita não seja apenas de tapete vermelho", afirmou Sánchez à Folha.

A premiada blogueira opositora do regime dos Castro recebeu anteontem da Embaixada brasileira em Havana visto de turista para visitar o Brasil no próximo mês.

Ela solicitou o documento para participar, no dia 10, do lançamento do documentário "Conexão Cuba-Honduras", de Dado Galvão, em Jequié (Bahia).

Para estar presente no evento, porém, falta o mais difícil: a anuência do governo cubano.

Folha - A sra. vê alguma sinalização política de Brasília na concessão do visto de turista?

Yoani Sánchez - Queria ter essa esperança. Estou entre a esperança e o ceticismo. Sem dúvida nenhuma, é um gesto positivo, de respeito ao meu trabalho jornalístico, a mim como cidadã, antes de ter a ver com a carta que enviei à Dilma ou o apelo pela ajuda dela.

Cumpriu-se um trâmite burocrático de uma simples cidadã, e isso talvez seja importante simbolicamente também. Entreguei todos os requisitos, antecedentes penais e tudo que pediam no tempo requerido. Não havia um só motivo para não conceder o visto e eu o recebi.

Tenho um passaporte cheio de visto de vários lugares, do Chile, da Espanha. Nos últimos quatro anos tem sido assim: eu recebo o visto para entrar em outros países, mas não para sair daqui.

O que a sra. espera da visita de Dilma?

Esperamos dela uma agenda muito mais ampla do que contatos com o governo e com a chancelaria. Esperamos que ela esteja interessada não só no estado da construção do porto de Mariel [obra financiada pelo BNDES e feita pela Odebrecht], mas também no estado da construção dos direitos cidadãos em Cuba.

Que essa visita não seja apenas de tapete vermelho, que ela se aproxime e consiga escutar a maravilhosa diversidade de vozes cubanas.

Dilma chega a Cuba num período complicado, de aumento da agressividade oficial, de radicalização do discurso por causa da morte do dissidente Wilman Villar, há oito dias.

Tem havido detenções e muita violência verbal contra nós. Desde a morte dele, aumentou a vigilância. Ontem [anteontem] justamente, quando fui à embaixada brasileira apanhar meu passaporte, havia dois homens em dois carros me vigiando.

A sra. pediu um encontro com a presidente Dilma. Algum sinal de que vá acontecer?

Até agora não há nenhuma sinalização. Creio que não haverá espaço.

A sra. se comparou a Dilma, na foto em que ela aparece sendo julgada por militares durante a ditadura. Por quê?

A foto de Dilma é emblemática, me impressionou muito. É como eu me sinto nesse momento: embora não tenha sido condenada nem julgada, eu também me sinto numa prisão em formato de ilha, na qual as grades são o mar. Apesar das diferenças de momento histórico, o que há de semelhante, creio, é a covardia do repressor.

Qual é a situação de força dos opositores em Cuba? Há ambiente para uma "primavera cubana"?

A primavera cubana ainda não está madura. É como um fruto ainda na árvore: tem de passar frio, sol. Há muito medo.

Leia a íntegra
folha.com/no1040029

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