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Análise

Limite de mandatos se choca com a falta de novos líderes

JULIA SWEIG
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde que Raúl Castro assumiu, em 2008, nota-se a ausência de retórica estridente, tanto em termos gerais quanto com relação aos EUA.

Sim, o embargo americano causa estragos econômicos e é uma afronta à soberania cubana, Raúl costuma lembrar aos seus ouvintes. Mas também diz que cabe aos cubanos resolver seus problemas, e não culpar os norte-americanos por eles.

No entanto, na recente reunião dos fiéis do comunismo, encerrada anteontem, apesar das menções positivas a temas como integração racial, religiosa e sexual, os comentários finais do presidente pareceram, a princípio, decididamente negativos.

Seu discurso revelou muito sobre o frustrante processo de transformação -"sin prisa, sin pausa", em suas palavras- que a presidente Dilma Rousseff deve testemunhar durante sua visita.

Castro, 80, discursou em torno de quatro temas entrelaçados: democracia, liberdade de expressão, corrupção e liderança geracional.

Primeiro, defendeu o "partido único cubano" como defesa do país contra "a demagogia e a mercantilização" da democracia representativa.

O segundo tema tinha por foco a necessidade de a imprensa cubana se tornar mais profissional e objetiva.

Depois, implorou aos militantes do partido e à imprensa que digam a verdade -uns aos outros, e para o público-, em um apelo pela objetividade e transparência de que Cuba precisará para que a presente geração não perca sua "última oportunidade" de enfrentar a maior ameaça ao seu legado, a corrupção.

O quarto tema foi tentar explicar o equilíbrio necessário entre os limites recentemente impostos ao número de mandatos que um líder pode exercer -dois mandatos consecutivos de cinco anos, para os principais dirigentes- e a ausência de uma reserva sólida de líderes experientes da nova geração, prontos a assumir as rédeas.

Incorporados a um discurso bastante duro havia conceitos idealistas e ambiciosos como tolerância, destemor, confiança, sinceridade, franqueza e objetividade, única maneira de conduzir ao futuro uma revolução mais democrática. É uma pedida difícil: parece conservadora, mas em termos cubanos traz potencial fortemente radical.

JULIA SWEIG é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations

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