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Dilma vai a Cuba e critica base dos EUA

Presidente evita tratar de direitos humanos na ilha, mas cita Guantánamo, onde americanos mantêm 171 presos

Washington é alvo de crítica internacional por manter na base supostos terroristas em um limbo jurídico

Adalberto Roque/France Presse
Na sua primeira visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff se encontra em Havana como ditador Raúl Castro
Na sua primeira visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff se encontra em Havana como ditador Raúl Castro

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

Em sua primeira visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff se recusou ontem em Havana a comentar problemas de direitos humanos no país comunista.

Mas, além de admitir violações no Brasil, mencionou um dos pontos em que os EUA são mais criticados nesse quesito: a prisão de Guantánamo, base naval localizada em território cubano. Lá, 171 supostos terroristas são mantidos num limbo jurídico.

"Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo", respondeu a presidente a jornalistas.

"Eu concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral", continuou, repetindo a linha da diplomacia brasileira de que não deve haver "seletividade" na crítica.

Dilma havia sido instada nos últimos dias por dissidentes do governo cubano a falar sobre repressão e falta de liberdade de expressão no país governado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro há 53 anos.

"Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós no Brasil temos o nosso. Agora, de fato, [os direitos humanos são] algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral", ponderou.

A presidente também foi questionada sobre o caso da blogueira Yoani Sánchez, que espera do governo da ilha autorização para ir ao Brasil. "O Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro."

Yoani quer participar do lançamento de um documentário na Bahia, mas Cuba precisa liberar a viagem.

Dilma chegou ao poder prometendo mais atenção aos direitos humanos. A mudança mais expressiva foi quanto ao Irã, com apoio à investigação de violações.

Sobre Cuba, em janeiro do ano passado ela prometeu apontar "falhas" na política de direitos humanos, mas isso não ocorreu. Na semana passada, o chanceler Antonio Patriota afirmou que o problema não é "emergencial" -apesar, por exemplo, da morte do dissidente Wilman Villar, que fazia greve de fome na prisão, em janeiro.

O mote da viagem da presidente foi econômico. Dilma levou a Cuba linha de crédito de US$ 523 milhões, que inclui o financiamento da obra-estrela da relação bilateral, o porto de Mariel.

O total de financiamentos brasileiros alcança agora US$ 1,3 bilhão, que inclui US$ 683 milhões via BNDES para o porto, US$ 350 milhões em linha de crédito para importação de alimentos e US$ 200 milhões para importação de máquinas agrícolas.

Após reunião de trabalho e almoço de uma hora e 15 minutos com o ditador Raúl Castro, Dilma visitou as obras de Mariel. Ela e o dirigente cubano discutiram o projeto de instalar fábricas de remédios brasileiras, com tecnologia cubana, na zona do porto.

O Brasil é o quarto parceiro de comércio de Cuba, bem atrás da Venezuela, que tem convênio para a troca de serviços médicos e educativos por petróleo e abarca nada menos que 40% de todo o intercâmbio comercial.

Dilma se encontrou também com o ex-ditador Fidel Castro, 85. "Vou, sim, com muito orgulho [encontrá-lo]", disse, antes da visita. A presidente esteve acompanhada por Patriota, pelo assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia e pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

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