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Clóvis Rossi

Não houve licença para matar

Brasil insiste em que sírios devem dialogar, com ajuda da ONU e da Liga Árabe; crise é 'obra em progresso'

Ponto da situação síria, segundo virtual consenso entre analistas, resumido assim por Daniel Byman, diretor de pesquisas do Centro Saban da Brookings Institution:

"O ditador sírio não é forte o suficiente para subjugar a oposição, mas esta não é forte o suficiente para colocá-lo para fora".

Corolário extraído pela diplomacia brasileira: "Diante desse equilíbrio de poder, a única saída é as partes conversarem entre si", diz o embaixador Cesário Melantônio, enviado especial para o Oriente Médio.

Proposta sensata, mas que esbarra na resistência de ambos os lados. Na verdade, "não há fórmula mágica", como reconhece o chanceler Antonio Patriota. Mas Patriota se recusa a aceitar que o impasse no Conselho de Segurança, no qual Rússia e China vetaram resolução proposta pela Liga Árabe e apoiada pelos países ocidentais, "seja interpretado como o esgotamento dos esforços diplomáticos, que, ao contrário, são cada vez mais urgentes e necessários".

O chanceler tampouco acha que a paralisia em que caiu o CS possa servir de cobertura para uma escalada de violência, no que não deixa de ser um crítica ao governo Bashar Assad, que ontem lançou novo e mais feroz ataque à cidade de Homs.

Patriota conversou ontem com Nabil El Araby, secretário-geral da Liga Árabe, que evocou o fantasma de uma guerra civil, que, como constata o chanceler, "não se limitaria à Síria, pois teria reflexos regionais". De fato, um conflito na Síria afetaria todo o corredor Irã/Iraque/Líbano, além da própria Síria.

O que fazer, então, para evitar o incêndio, mesmo levando em conta que não há solução mágica? Patriota trabalha com a esperança de que seja recuperada proposta brasileira formulada em outubro, a de envio de uma missão conjunta de observadores da Liga Árabe e das Nações Unidas. Teria a vantagem de somar a legitimidade da Liga Árabe para atuar na região e a experiência da ONU em missões semelhantes (nem sempre bem-sucedidas, é verdade, mas não há substituto legítimo para as Nações Unidas).

Ou, então, a criação da figura de enviado especial do secretário-geral da ONU.

A diplomacia brasileira trabalha em permanente contato com os dois outros países do grupo Ibas (Índia e África do Sul, que continuam sendo membros não-permanentes do Conselho de Segurança). Como ambos votaram a favor da resolução que Rússia e China vetaram, é razoável deduzir que o Brasil, se ainda estivesse no CS, teria desta vez se alinhado com o Ocidente.

Patriota lembra, a propósito, que o Brasil sempre votou a favor de resoluções da ONU condenando a Síria por violações aos direitos humanos.

Para reforçar o apoio do Brasil à resolução vetada, o chanceler lembra que ela continha dois elementos que o Itamaraty considera essenciais: primeiro, uma clara rejeição a uma ação militar e, segundo, uma referência a que o processo seja desenvolvido pelos próprios sírios -ou seja, nada de uma solução imposta de fora.

Como diz o embaixador Melantônio, a crise síria é uma "obra em progresso" que, por isso mesmo, exige avaliações e reavaliações a cada 24 horas. É o que o Brasil está fazendo.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Roberto Abdenur

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