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O anti-Chávez

Vencedor da prévia opositora para enfrentar o presidente venezuelano, Henrique Capriles se diz progressista, mas também recorre ao paternalismo

EFE/Miguel Gutierrez
O presidenciável opositor, Henrique Capriles
O presidenciável opositor, Henrique Capriles

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Henrique Capriles Radonski subiu ao palco com olhos marejados, fez agradecimentos esparsos enquanto apertava uma mão contra a outra. Parecia nervoso. "Arriba, Venezuela!", gritou.

No chão, uma pequena multidão de apoiadores aplaudia eufórica com os resultados divulgados pouco antes: o governador do Estado de Miranda, que abarca parte de Caracas, vencera com 1,9 milhão de votos, ou 64% dos válidos totais, as inéditas primárias para escolher o adversário de Hugo Chávez nas presidenciais em 7 de outubro.

"Vou lutar com toda a energia para ganhar a confiança de vocês", lançou, numa das referências que faria aos apoiadores do governo e independentes, uma marca de sua campanha.

Chamou ao palco seus adversários na disputa interna -Capriles ultrapassara, por mais de 1 milhão de votos, o segundo colocado, Pablo Pérez, governador de Zulia.

O delfim anti-Chávez também conseguira emplacar seus indicados para candidaturas na Grande Caracas.

O governador mais novo da Venezuela -ele só completará 40 em 11 de julho- chegava mais perto do sonho de infância de ser presidente, representando uma "nova face" da oposição, com menos vínculos com siglas tradicionais, os decadentes AD (Ação Democrática) e Copei (Partido Social-Cristão, direita), que se revezaram no poder entre 1958 e 1993.

PROGRESSISTA

O candidato pertence a duas famílias ricas: os Capriles, donos de um conglomerado de mídia, e os Radonski, judeus que fugiram do gueto de Varsóvia e fundaram na Venezuela uma rede de cinema.

Ele é católico, se diz "progressista", mas começou a carreira como deputado no Copei, em 1998.

Em 2000, foi eleito pelo novato Primero Justiça prefeito de Baruta, um dos municípios que formam Caracas.

Foi quando, alinhado à oposição que tentou derrubar Chávez em 2002, foi acusado de invadir a embaixada de Cuba -ele nega ter entrado à força. Golpe revertido, ficou preso por quatro meses, mas nunca foi condenado.

Ele seria eleito prefeito mais uma vez, mas sua trajetória só daria um salto em 2008, quando venceu, nas eleições para o governo de Miranda, nada menos do que um dos homens fortes do chavismo, Diosdado Cabello -hoje presidente da Assembleia Nacional.

"Nunca perdi para Chávez", costuma dizer.

Capriles diz defender o "modelo Lula", juntando distribuição de renda e incentivo do investimento privado -inclusive o brasileiro, que ele quer atrair.

Quanto à aliança política e amizade que une Lula e seu adversário, cita que o brasileiro não mudou a Constituição para se reeleger. "Creio que, em visões de democracia, há diferenças entre o modelo brasileiro e a situação na Venezuela. Tenho certeza que terei as melhores relações com o Brasil", disse ontem.

De Chávez, ele admite que há de se reconhecer duas qualidades: pôs em primeiro plano, e de maneira irreversível, a desigualdade social e é capaz de se conectar com o venezuelano comum.

Nisso, ele é um aprendiz de feiticeiro. No corpo-a-corpo com o eleitorado, se solta mais que no palco.

Ao estilo de Chávez, recolhe cartas e pedidos de ajuda em suas jornadas em favelas. Ele diz fazer o que o presidente, "um cavalo cansado", só faz agora na TV. Colabora na interação, especialmente com o público feminino, a aura de solteiro cobiçado "em busca de uma primeira-dama".

Capriles namorou por anos a apresentadora da versão latina do programa "American Idol" e costuma frequentar o noticiário de celebridades tanto quanto o político.

Na última sexta, um dos apresentadores mais agressivos da TV estatal, Mario Silva, mencionou em seu programa que ele teria sido flagrado com um homem. Sinalização de que pode vir na frente "guerra suja" de campanha?

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