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Análise

É difícil reprisar integralmente o 'filme' da queda do ditador líbio

A SÍRIA TEM UM EXÉRCITO MUITO MAIS ORGANIZADO E PODEROSO DO QUE AS FORÇAS DE GADDAFI

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se é claro que há uma tentativa de repetição do enredo líbio para a crise na Síria, é forçoso dizer que há variáveis muito complicadas para uma reprise integral do filme.

Naturalmente, aqui estão considerados apenas fatores objetivos, sem avaliar a eventual eficácia de sanções, pressões diplomáticas e aumento da retórica regional.

Isso dito, a Síria não é a Líbia. Tem um Exército muito mais organizado e poderoso do que as forças de Muammar Gaddafi. "Armar rebeldes" não parece uma solução real para o problema.

As Forças Armadas têm 295 mil homens, mais 315 mil na reserva -a Líbia tinha 75 mil, em formações erráticas. Não há ainda algo como um "exército rebelde" na Síria.

Com 4.950 tanques, os sírios têm a maior força blindada regional, ainda que perca em termos de eficácia e modernidade para Israel. Mas, para conter uma revolta, ainda parecem muito poderosos.

Aí entra um fator vital, que é a lealdade dos homens fardados. Se os militares mudarem de lado, sob a perspectiva de algum poder concedido pelo Ocidente, falar em números frios é inócuo.

Seja como for, é improvável também uma repetição da campanha aérea ao estilo líbio. Forças ocidentais teriam de ser posicionadas na Turquia, o que levaria a instabilidade na sua fronteira sul.

Ataques de mísseis a partir de navios no Mediterrâneo seriam mais viáveis, mas ao mesmo tempo não são sustentáveis por muito tempo.

Há o fator Rússia. Tradicional cliente de armas de Moscou, Damasco comprou desde 2010 sistemas de defesa aérea para não repetir o fiasco de 2007 -quando suas instalações nucleares secretas foram destruídas por aviões israelenses sem oposição.

Isso dificultaria em algo uma campanha aérea, além do fato de os russos arrendarem para fins militares um porto no país, algo que por si só é um fator de dissuasão.

Por fim, é preciso saber como se comportará o Irã, grande patrono do regime de Assad, sob pressão dupla. De um lado, Ocidente e Israel tentando conter seu programa nuclear. Do outro, o golfo, Arábia Saudita à frente, visando derrubar sua influência sobre o mundo árabe.

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