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Por trás de discurso confiante, Irã quer desencorajar confronto

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Diante das reiteradas ameaças de Israel, o Irã flexiona os músculos e se diz pronto para o combate.

Mas, por trás da autoconfiança proclamada, existe a tentativa de desencorajar o inimigo a iniciar uma guerra que o regime não quer. Muito menos a população iraniana.

É consenso entre analistas que a inferioridade militar do Irã torna praticamente impossível uma vitória contra Israel, que possui uma das forças mais modernas e bem treinadas do mundo -além de um provável arsenal nuclear.

Especula-se que o Irã responderia a um ataque de forma assimétrica. Com apoio dos aliados Hamas e Hizbollah, lançaria atentados contra alvos israelenses ou encheria de minas o estreito de Hormuz, por onde passa diariamente um quinto da produção global de óleo bruto.

Mas, num contexto de pressão internacional e de eleição parlamentar (em 2/3), Teerã precisa demonstrar que não teme o confronto direto.

Exercícios militares e a retórica oficial recentes seguem compasso de intimidação. O ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, disse que Israel "cometeria suicídio" agredindo o Irã. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, alertou que responderá a qualquer ataque "de um jeito que demolirá os agressores por dentro".

A mídia estatal vem dando voz a analistas pró-regime que defendem que nem Israel nem os EUA teriam coragem de lançar uma ofensiva por saber que encontrariam muita dificuldade.

Essa visão é ponderada por outros analistas. "Não acho que o Estado seja tão forte como mostra. Se alguém se meter com o Irã, será outro Iraque. Não há muita diferença", disse à Folha o sociólogo político Babak Musavifard, da Universidade Azad de Teerã.

Estudioso do Irã, o cientista político francês Thierry Coville também vê o Irã sem poderio relevante. "Há um abismo entre a realidade da capacidade do Exército e a imagem veiculada na mídia", disse, citado pelo jornal "Le Monde".

A capacidade bélica iraniana remete a outra pergunta: qual a chance real de Israel atacar o Irã? Musavifard responde com ironia: "Cão que late não morde. Não acho que vá ocorrer uma guerra".

Outro especialista iraniano ouvido pela Folha -que preferiu não ter o nome divulgado- também aposta na manutenção do status quo, ao menos até a eleição presidencial nos EUA, em novembro.

"Não é de hoje que anunciam um ataque iminente ao Irã. Não vai acontecer nada em 2012", prevê. Segundo ele, a prioridade israelense é usar sua poderosa rede de influência nos EUA para solapar a reeleição de Barack Obama, contrário a um ataque.

Para o pesquisador iraniano-americano Kevan Harris, da Universidade Johns Hopkins, porém, o risco existe. "A situação hoje é mais perigosa que alguns anos atrás."

Outra incógnita é se um ataque traria mais ou menos apoio ao regime. É comum ouvir a tese de que setores do governo encaram uma agressão como o pretexto para se perpetuarem no poder.

A crise econômica causada pelas sanções, porém, parece preocupar muito mais a população. O taxista Mahdi, 37, resume: "Não quero saber de energia nuclear nem de Israel. Quero saber como fechar o mês com os preços disparando a cada semana".

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