Murdoch lança novo tabloide dominical

Sete meses depois de ser forçado a fechar o popular tabloide dominical "News of the World", após denúncias de escutas telefônicas ilegais feitas por jornalistas com consentimento da direção, o grupo de Rupert Murdoch lançou ontem seu novo investimento para os domingos.

Em vez de criar mais um título, Murdoch, 80, usará a popularidade do tabloide "The Sun", o jornal de maior circulação no Reino Unido, que passa a ser publicado aos domingos.

O grupo também será mais cauteloso. Os escândalos com celebridades que o "News of the World" publicava devem ser deixados para trás.

Um exemplo disso é a manchete do "Sun" de ontem. Ocupando cinco páginas do jornal, foi dedicada a Amanda Holden, jurada do programa de TV "Britain's Got Talent" que quase morreu após o parto de sua segunda filha. A chamada de capa, ao lado de foto de Amanda com a recém-nascida, era: "Meu coração parou por 40 segundos".

O tabloide, que custará 50 centavos de libra (R$ 1,35) até 2013, dedica um terço do espaço a esportes. Além das 92 páginas do caderno principal, há um suplemento de 28 páginas sobre futebol.

Charlie Beckett, professor do departamento de mídia e comunicações da London School of Economics, disse à Folha acreditar que o "Sun" aos domingos será um relativo sucesso.

"Ele não será tão grande quanto o 'News of the World', nem tão agressivo, sexualizado ou transgressor da privacidade. Em parte porque Murdoch não quer mais críticas, mas principalmente porque ele será como o 'Sun' diário, que é mais familiar e agradável às mulheres", avalia.

Em um editorial intitulado "Um novo 'Sun' nasce hoje", o jornal dá as "boas-vindas a um novo amanhecer".

No texto, reconhece que a News International, braço britânico do conglomerado de Murdoch, teve de fechar o "News of the World" e que desde então alguns dos jornalistas da empresa foram presos, mas promete que todos os profissionais agora se comportarão de forma ética.

COMISSÃO INTERNA

Há duas semanas, cinco jornalistas do próprio "The Sun" foram presos sob a acusação de subornar policiais e outros funcionários públicos em troca de informações. Uma comissão interna da empresa colaborou nas investigações, o que causou desconforto entre os jornalistas.

Murdoch, presidente da News Corporation, viajou para Londres após receber a notícia das prisões, e conduziu a operação de lançamento do novo produto durante mais um momento delicado.

No mês de janeiro, outros funcionários e dois jornalistas haviam sido presos.

Todos os profissionais saíram da cadeia após o pagamento de fiança.

Também em janeiro, o grupo anunciou a conclusão de 37 acordos extrajudiciais para indenização de vítimas dos grampos do "News of the World". A lista de vítimas inclui atores como Jude Law e políticos britânicos.

IMPÉRIO

No Reino Unido, Murdoch também é dono dos jornais "The Times" e "Sunday Times", dos canais Sky e detém 39% da BSkyB, a maior provedora de TV por assinatura.