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Opinião

Leia o texto "Não às mentiras", que motivou a condenação

EMILIO PALACIO
DO “EL UNIVERSO”

Esta semana, pela segunda vez, a Ditadura, por meio de um de seus porta-vozes, informou que o Ditador estuda a possibilidade de perdoar os criminosos que se sublevaram em 30 de setembro, razão pela qual estuda conceder um indulto.

Não sei se a proposta me inclui (de acordo com as redes ditatoriais, fui um dos instigadores do golpe), mas, se for assim, recuso.

Compreendo que o Ditador (cristão devoto, homem de paz) não deixe passar uma oportunidade de perdoar os criminosos. Ele indultou as mulas do narcotráfico, se compadeceu dos assassinos presos na Penitenciária do Litoral, pediu aos cidadãos que se deixem roubar para que não haja vítimas, cultivou uma grande amizade com os invasores de terras e os converteu em legisladores, até que o traíram.

Mas o Equador é um Estado laico onde não se permite usar a fé como fundamento jurídico para eximir criminosos de pagarem suas dívidas.

Se eu cometi algum delito, exijo que me provem que o fiz; do contrário, não espero perdão judicial nenhum, mas os devidos pedidos de desculpas.

O que ocorre, na realidade, é que o Ditador finalmente compreendeu (ou seus advogados o fizeram compreender) que não tem como provar o suposto crime de 30 de setembro, já que foi tudo fruto de um roteiro improvisado, no meio do corre-corre, para ocultar a irresponsabilidade do Ditador ao ir para um quartel sublevado, abrir a camisa e gritar para que o matassem, como um lutador de luta livre que se esforça em seu show de circo em uma cidadezinha perdida no mapa.

A esta altura, todas as "provas" para acusar os "golpistas" se descosturaram:

O Ditador reconhece que a péssima ideia de ir ao Regimento Quito e entrar no local à força foi dele. Mas então ninguém pode ter se preparado para assassiná-lo, já que ninguém o esperava.

O Ditador jura que o ex-diretor do Hospital da Polícia fechou as portas para impedir sua entrada. Mas então tampouco nisso houve algum complô, porque nem sequer queriam ver sua cara.

As balas que assassinaram os policiais desapareceram, mas não nos gabinetes de Fidel Araujo, e sim em um recinto guardado por forças leais à Ditadura.

Para mostrar que não usava colete à prova de balas, Araujo vestiu um colete diante de seus juízes e então vestiu a mesma camiseta que usava nesse dia.

Seus acusadores tiveram de se envergonhar diante da demonstração palpável de que simplesmente não é possível esconder um colete à prova de balas.

Eu poderia continuar, mas o espaço não me permite. Entretanto, já que o Ditador entendeu que deve retroceder com seu conto de fantasmas, lhe ofereço uma saída: não é o indulto que deve tramitar na Assembleia Nacional, e sim a anistia.

A anistia não é perdão -é esquecimento jurídico. Se for adotada, implicará que a sociedade chegou à conclusão de que no dia 30 de setembro se cometeram inépcias demais, de uma parte e de outra, e que seria injusto condenar alguns e premiar outros.

Por que o Ditador pôde propor a anistia para os "cabeludos" Gustavo Noboa e Alberto Dahlik, mas quer indultar os policiais "caboclos"?

Por último, e isto é muito importante, o Ditador deveria recordar que, com o indulto, no futuro um novo presidente, talvez inimigo dele, poderia levá-lo perante uma corte penal por ter dado ordem de abrir fogo por sua própria decisão, e sem aviso prévio, contra um hospital cheio de civis e pessoas inocentes.

Vale recordar que os crimes de lesa-humanidade não prescrevem.

Tradução de CLARA ALLAIN

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