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Atitude de Ahmadinejad provocou atrito, diz analista

DE TEERÃ

A autoconfiança adquirida pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad no segundo mandato causou o racha com os partidários do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

As raízes do conflito foram destrinchadas em entrevista à Folha pelo sociólogo político Babak Musavifard, da Universidade Azad de Teerã.

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Folha - Qual a importância desta eleição legislativa?

Babak Musavifard - A eleição que realmente importa é a presidencial [em 2013]. Tentam nos dizer que o Parlamento conta muito, mas na verdade ele tem pouco poder. Além disso, o regime tem um órgão para dizer quem pode e quem não pode ser candidato. Isso elimina muita gente.

O jogo está nas mãos dos conservadores. O regime não admite isso e insiste em que há reformistas no páreo, mas os reformistas autorizados são desconhecidos ou não têm peso. Os líderes importantes estão presos ou tiveram a candidatura rejeitada.

Que facção conservadora é a favorita?

Os candidatos estão divididos ao redor de três frentes.

A primeira, que eu daria como favorita, é a dos conservadores tradicionais, partidários do líder supremo. Nesse grupo está Ali Larijani, atual presidente do Parlamento. Na segunda estão os partidários de Ahmadinejad, conservadores mais radicais.

A terceira frente é composta de candidatos independentes e alguns reformistas.

Mas os mais radicais não são os partidários de Khamenei?

Dentro de cada frente há contrastes e tendências. No que diz respeito à política interna, os partidários do presidente nem sequer reconhecem os reformistas.

Como surgiu o racha entre Ahmadinejad e o líder supremo?

A relação entre eles era muito boa no primeiro mandato de Ahmadinejad [2005-2009]. O presidente, jovem e inexperiente, aceitava bem as ordens do líder supremo. Mas, no segundo mandato, Ahmadinejad ficou mais confiante e, por saber que não poderia se candidatar outra vez, passou a tentar agir com mais autonomia.

A disputa ocorre desde a reeleição. Tudo começou quando Khamenei não aceitou a indicação de Ahmadinejad para vice-presidente. Ele queria emplacar seu confidente e assessor Esfandiar Rahim Mashaee, que, além de pouco conhecido e inexperiente, é visto como liberal demais. Viveu um tempo na Índia e há rumores de que é membro de seita esotérica.

O presidente resistiu ao veto de Khamenei por uma semana antes de ceder. Mashaee acabou virando chefe de gabinete, mas na prática ele é o verdadeiro vice. Em 2010, Ahmadinejad demitiu o ministro de Inteligência, mas foi obrigado a reintegrá-lo por pressão do líder supremo.

Mashaee teria defendido a normalização com Israel...

Não foi exatamente isso. Em entrevista, ele disse que o Irã é amigo de todos os povos, incluindo o israelense. Mas o Estado iraniano considera que Israel não existe e, portanto, também não existe povo israelense. A declaração enfureceu o líder supremo.

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