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Organizações criticam Brasil sobre prêmio

Premiação da Unesco financiada por ditador da Guiné Equatorial tem 'simpatia' do país

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

Às vésperas de uma nova votação na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para decidir o futuro do polêmico prêmio ligado ao ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, grupos de defesa dos direitos humanos condenam o posicionamento do Brasil sobre o tema.

Para a HRW (Human Rights Watch) e a ONG EG Justice, da Guiné Equatorial, o governo brasileiro deveria se opor ao prêmio Unesco-Obiang Nguema Mbasogo de pesquisa para ciências da vida, "como todas as outras democracias" do Conselho Executivo da Unesco, que reúne 58 países.

"É lastimável que o Brasil apoie este prêmio e fique ao lado de um governo conhecido em todo o mundo por seus altos níveis de corrupção e repressão", afirma a pesquisadora do HRW Lisa Misol.

As ressalvas ao prêmio não se dão somente pelo fato de ele ter sido criado, financiado e ter recebido o nome do ditador -que assumiu o poder há 32 anos com um golpe militar no pequeno país africano, rico em petróleo.

Outro problema é a incerteza sobre a origem dos US$ 3 milhões oferecidos a pesquisadores.

"Temos razões para acreditar que o valor que Obiang deu à Unesco para criar esse prêmio vem de fontes corruptas. Obiang não faz distinção entre seus bens privados e a receita do Estado", diz Tutu Alicante, diretor-executivo da EG Justice.

O prêmio, que foi aprovado em 2008 pelo próprio Conselho Executivo da Unesco, nunca chegou a ser aplicado. Foi suspenso em maio de 2010 e, desde então, sua discussão vem sendo adiada.

A expectativa é que o tema volte à mesa hoje, com a apresentação de um texto de resolução no conselho, apoiado por países africanos, que prevê a manutenção do prêmio.

Segundo o Itamaraty, a posição do Brasil é "simpática" a um prêmio que "incentiva a pesquisa contra doenças endêmicas comuns na África", como a malária.

Portanto, o governo brasileiro tenta chegar a um texto de consenso, que inclua a preocupação de vários países com a origem do dinheiro e o nome do prêmio, mas que preze por sua manutenção.

Para Alicante, no entanto, o motivo de o Brasil não se opor ao prêmio é outro. "Um dos principais interesses brasileiros no país é petróleo. A Petrobras é uma das poucas empresas no mundo com capacidade de extrair o petróleo da Guiné Equatorial."

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