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Clóvis Rossi

Cuba ainda assombra as Américas

Cúpula continental, quando EUA e vizinhos se encontram, fica pendente da presença de Raúl Castro

OS EUA pelejaram mais de 50 anos para se livrar dos irmãos Castro. Agora, quando Cuba vive o que soa ser o outono da revolução, eis que os EUA voltam a tropeçar na pedra cubana: está ameaçada a Cúpula das Américas, único momento de encontro entre a superpotência e seus vizinhos do Sul, cuja sexta edição será no mês que vem, na Colômbia.

Retrospectiva: o presidente do Equador, Rafael Correa, propôs que os países da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) boicotassem coletivamente a cúpula de Cartagena se Cuba não fosse convidada, como não foi para os encontros anteriores.

A proposta foi aceita pelos oito membros da Alba (Venezuela, Bolívia, Nicáragua, Dominica, Antigua e Barbuda, São Vicente e Granadinas, além, claro, do próprio Equador e de Cuba).

As ausências, especialmente dos três países sul-americanos do grupo, seriam um óbvio desastre, ainda mais que o tema da cúpula é "Conectando as Américas - Sócios para a Prosperidade".

Entenda-se por "conectando-se" a intenção de discutir a integração física regional -de resto um projeto da diplomacia brasileira que vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso e foi ainda mais impulsionado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Integração física na América do Sul ignorando Venezuela, Equador e Bolívia seria uma brincadeira diplomática e nada mais. Convidar Cuba é um atributo único do governo anfitrião, no caso a Colômbia. É por isso que o presidente Juan Manuel Santos viajou ontem para Cuba, para conversar com Raúl Castro e, de quebra, com o venezuelano Hugo Chávez, líder da Alba.

A impressão predominante na Colômbia é a de que Santos conseguiu convencer Raúl Castro de que não poderia convidá-lo, mas resta saber se os líderes da Alba aceitarão a ausência da ilha.

A hipótese inversa -convidar Cuba- equivaleria a decretar o fracasso da cúpula pela ausência dos Estados Unidos.

A secretária de Estado Hillary Clinton já disse que "Cuba não se encaixa na definição de países democráticos". Aliás, foi na segunda Cúpula das Américas (Canadá, 2001) que se aprovou a Carta Democrática Interamericana, talvez o mais valioso acervo desse tipo de encontros.

Parece lógico deduzir que o presidente Barack Obama não vai se deixar fotografar ao lado de Raúl Castro, em pleno ano eleitoral e cercado de acusações pelos "ultrarrepublicanos" de "socialista" e frouxo com os "inimigos da América".

E, sem os EUA, perde-se o espírito do encontro que viraria mera reprodução da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), recém-formalizada em cúpula realizada em Caracas.

Fazem parte da CELAC Cuba e 32 dos 34 países convidados para a Cúpula das Américas. Esta exclui Cuba e inclui Estados Unidos e Canadá.

O governo brasileiro gostaria que todos participassem, mas não quer que o tema Cuba sequestre a agenda, ao contrário do que pretendem os países da Alba.

Torce, por isso, pelo sucesso da gestão do presidente Santos, sobre a qual, no entanto, não havia um resultado claro até o momento de escrever este texto.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Moisés Naím

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