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Rebeldes temem armas químicas na Síria

Indícios de que regime intensificará repressão tornam ação internacional urgente, afirma desertor do Exército

Porta-voz do ELS diz que há 50 mil combatentes em território sírio, mas ainda faltam armas

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ALTINOZU (TURQUIA)

O Exército sírio começou a distribuir máscaras a seus soldados, num sinal de que cogita usar armas químicas contra desertores.

A afirmação é do porta-voz do grupo rebelde ELS (Exército Livre da Síria), capitão Ammar al Wawi, em entrevista concedida à Folha no sul da Turquia, a poucos metros da fronteira com a Síria.

"A distribuição de máscaras aconteceu há cerca de um mês", diz Wawi, 35. Segundo ele, a ameaça de usar armas químicas tem o intuito de dissuadir novas deserções nas forças de segurança.

Para o capitão, indícios de que o regime pretende intensificar a repressão tornam ainda mais urgente uma ação internacional.

A intervenção pedida pelo ELS consiste em três ações: fornecimento de armas aos rebeldes, estabelecimento de uma zona de exclusão aérea e ataques aos centros de poder de Assad.

Formado há oito meses por oficiais desertores, o ELS tem hoje mais de 50 mil integrantes dentro da Síria, afirma o capitão, mas sente falta de armas pesadas e munição suficiente para enfrentar Assad.

"Ouvimos promessas vazias, mas nenhum país atendeu a nosso apelo por armas", diz Wawi, garantindo que o financiamento não vem de países estrangeiros, mas de sírios no exílio. O arsenal dos rebeldes, segundo ele, é formado sobretudo por fuzis AK-47 e explosivos, além de poucas bazucas antitanques (conhecidas como RPG).

Na semana retrasada, o ELS teve que se retirar do bairro de Baba Amro, em Homs, que se tornou o foco mais brutal da repressão do regime. Apesar dos 27 dias de resistência, o recuo demonstrou a impotência dos rebeldes diante do Exército sírio.

O governo turco deu acolhida e apoio logístico ao comando do ELS, que tem uma base perto da fronteira, mas proibiu o fluxo de armas.

Da janela da casa em Altinozu, onde se abrigou com a mulher e os dois filhos desde que fugiu da Síria, em agosto, Wawi pode ver as montanhas nevadas de seu país.

Ele não revela quantos soldados o ELS tem em território turco. Mas conta que, de sua base no exílio, os líderes do grupo rebelde comandaram várias operações contra as forças de Assad.

Concentrado até agora na proteção à população civil, o ELS quer armas pesadas para atacar Assad.

Wawi minimiza o risco de o controle da revolta escapar das mãos do ELS com uma intervenção estrangeira.

"A verdade é que já existe uma intervenção estrangeira na Síria. Irã e Rússia têm bases militares no país e o [grupo xiita libanês] Hizbollah atua livremente", diz.

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