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Análise

Condições econômicas do país apontam para nova moratória no futuro próximo

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

Políticos europeus torcem a linguagem para evitar a temível palavra que começa com a letra C, mas o que a Grécia acaba de fazer é dar um calote em sua dívida.

É o maior da história mundial -superior ao da Argentina de 2001- e o primeiro de um país da zona do euro.

O governo grego fala em sucesso e acordo histórico ao anunciar que a grande maioria dos credores privados aceitou a troca de seus títulos por outros com uma redução de mais de 50% nos valores a receber.

Mas que opção tinham? Não receber nada? Provocar a saída da Grécia da zona do euro e agravar ainda mais a situação de outros países endividados, o que acarretaria perdas maiores?

É claro que a chamada "reestruturação da dívida" (eufemismo utilizado em Atenas e Bruxelas) é melhor que um "calote desordenado".

Há, ao menos, a promessa de reaver parte do dinheiro investido.

Além disso, todo mundo já sabia que aconteceria, o que explica a calmaria no mercado financeiro.

Mas ninguém tem a ilusão de que o problema esteja resolvido, nem mesmo políticos como o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que diante das câmeras disse que uma página na crise financeira do continente foi virada.

Em campanha pela reeleição e com a França muito afetada pela estagnação econômica da Europa, é tudo o que Sarkozy gostaria que tivesse acontecido.

A realidade é que a crise grega se arrasta há mais de dois anos e está longe do fim.

Antes do "acordo", a dívida pública equivalia a mais de 160% do PIB (conjunto de riquezas do país).

Se tudo der certo, cairá para 120% até 2020. É ainda um percentual altíssimo.

A dívida era e continuará impagável devido às condições do país.

A economia encolhe há quatro anos, a arrecadação cai, o desemprego dispara e cresce o número de pessoas abaixo da linha de pobreza.

Aumentam também os protestos nas ruas contra a política de austeridade (demissões de funcionários públicos, corte de salários, aumento de impostos).

Por tudo isso, a aposta é que o país não escapará de um novo calote, sem eufemismo, num futuro próximo.

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