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Eleições EUA

Retomada de Detroit é trunfo para Obama

Centro automotivo lidera queda do desemprego no país, mas à custa de flexibilização de contrato e redução salarial

Precarização de vagas, porém, representa risco para o presidente, que pode perder o apoio de operários à reeleição

VERENA FORNETTI
ENVIADA ESPECIAL A DETROIT

"O que está acontecendo em Detroit pode acontecer em outras indústrias." O aceno do presidente Barack Obama no discurso anual ao Congresso, sobre a recuperação do maior centro de produção de automóveis do país, enseja bons e maus agouros.

O Estado de Michigan, sede das montadoras Ford, GM e Chrysler, foi um dos campeões na redução da taxa de desemprego regional (de 12,7% em 2010 para 10,3% em 2011). Mas empresas e sindicatos fizeram acordos que reduziram benefícios e flexibilizaram contratos.

Críticos dizem que montadoras e sindicatos criaram duas classes de trabalhadores: os contratados antes da recessão e os que foram recrutados após a crise. Eles têm remuneração, previdência e seguro-saúde distintos.

Empresas argumentam que os arranjos criaram empregos e fortaleceram a indústria automotiva.

Na apresentação dos resultados de 2011, a Ford afirmou que a competitividade nos EUA aumentou graças a acordo com a central sindical UAW (Trabalhadores Unidos da Indústria Automotiva), que durará quatro anos.

A companhia não recuperou o nível de produção e vendas nos EUA que tinha antes da recessão, que começou em dezembro de 2007. O lucro líquido da montadora, no entanto, passou de US$ 6,6 milhões para US$ 20,2 milhões de 2010 para 2011.

A Chrysler também ganhou competitividade após acordo com a UAW e anunciou que retomará o terceiro turno de montagem em Detroit.

O sindicato diz que os contratos com as três grandes montadoras do local, assinados no final de 2011, vão gerar 20 mil empregos diretos.

Os dirigentes comemoram o resultado e fazem campanha para Barack Obama, que aprovou plano de socorro ao setor durante a crise. O emprego é o tema mais sensível nesta campanha eleitoral.

'GANÂNCIA'

"Dizem que se trata de competitividade. Eu digo que é ganância", diz Larry Miller, 57, taxista e ex-empregado na indústria automotiva, em referência à tensão entre trabalhadores e sindicalistas.

Há dois meses, Miller recebeu proposta para voltar à uma fábrica por US$ 15 a hora. Não quis. Antes de ser demitido, em 2007, recebia US$ 25 por hora. Como taxista, hoje faz US$ 10 por hora.

O metalúrgico John D. (não quis revelar o sobrenome), empregado há 15 anos no setor, diz que ganha US$ 30 por hora e um novato, US$ 14. "Os novos podem no futuro até conseguir melhora no salário, mas não vão ter o mesmo nível de vida que os que estão lá há mais tempo."

Contra a crise, o sindicato e as empresas acordaram duas faixas de salários, uma para os mais experientes e outra para os recém-chegados.

Segundo a assessoria da UAW, até 20% dos empregados das montadoras podem se enquadrar no nível mais baixo de remuneração. Nos acordos de 2011, os salários de entrada foram elevados, e os dos veteranos, congelados.

Os novos acordos enfrentaram resistência em votação no sindicato, mas foram aprovados. "As lideranças não representam mais os interesses dos trabalhadores", diz o aposentado Jesse James, 70.

Para o economista Paul Edelstein, da consultoria IHS, o desemprego aumenta a concorrência e achata os salários.

"O avanço dos salários é fraco. Foi de apenas 1,1% ao ano em janeiro, insuficiente para acompanhar a inflação. Antes da recessão, o crescimento salarial era de 2,4%", afirma o economista.

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