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Soldado dos EUA mata 16 civis no Afeganistão

Sargento sai de base em Candahar de madrugada e invade casas nas redondezas; entre os mortos estão 9 crianças

Líder afegão fala em "assassinato"; Obama afirma que ataque é chocante e promete punir responsáveis

Ahmad Nadeem/Reuters
Homem guarda corpo de criança morta em ataque de soldado americano em Candahar
Homem guarda corpo de criança morta em ataque de soldado americano em Candahar

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Um soldado americano saiu de sua base militar em uma zona rural no sul do Afeganistão, invadiu três casas nas proximidades e abriu fogo contra seus moradores, matando ao menos 16 civis, entre eles nove crianças e três mulheres.

O presidente afegão, Hamid Karzai, classificou o que houve de um assassinato e exigiu uma explicação dos Estados Unidos.

A matança soma tensão às relações entre Washington e Cabul, especialmente após o episódio da queima de livros do Corão numa base americana no mês passado.

Houve semanas de protestos e ataques que deixaram 30 mortos, entre eles seis soldados americanos.

Antes, a divulgação de um vídeo mostrando fuzileiros navais americanos urinando sobre militantes afegãos mortos também provocou repúdio no país.

"Isso é um assassinato, a matança intencional de civis inocentes, e não pode ser perdoado", disse Karzai em uma nota. Outras cinco pessoas ficaram feridas.

O presidente dos EUA, Barack Obama, telefonou para Karzai. Em nota divulgada pela Casa Branca, chamou o ataque de "trágico e chocante" e prometeu obter informações "o mais rápido possível e punir os responsáveis". A missão da Otan (aliança militar ocidental) no Afeganistão disse em comunicado que o atirador foi detido e que haverá uma "rápida e completa investigação".

As mortes ocorreram no distrito de Panjwai, na província de Candahar ­-antes um reduto do Taleban e alvo da "escalada" militar americana em 2010.

CRISE NERVOSA

O sargento, cujo nome não foi divulgado, deixou a base de Zangabad de madrugada, por volta das 3h, e se dirigiu aos vilarejos de Alkozai e Najeeban, a cerca de 500 metros da base. Após o tiroteio, voltou e se entregou.

Relatos davam conta de que o soldado teria tido uma crise nervosa recentemente.

"Quando isso aconteceu, no meio da noite, estávamos dentro de casa. Ouvi tiros, depois silêncio e depois tiros de novo", disse Abdul Baqi, morador local.

Em uma casa em Najeeban, o atirador teria matado 11 pessoas, incendiando seus corpos em seguida. Um parente, Haji Samad, disse que produtos químicos haviam sido despejados sobre os corpos.

"Vi todos os meus parentes mortos, incluindo meus filhos e netos", disse Samad, aos prantos.

Ao menos três crianças foram mortas com um único tiro na cabeça, segundo relato de moradores.

Pela manhã, muitos se reuniram diante da base militar para protestar. A embaixada americana em Cabul fez um alerta para a possibilidade de ataques em represália.

"Esse é um golpe fatal contra a missão militar americana no Afeganistão. Qualquer resquício de confiança e credibilidade que poderia ainda haver depois da queima do Corão acabou", disse o analista David Cortright.

"Isso pode ter sido o ato de um soldado desequilibrado. Mas o povo do Afeganistão verá o caso pelo que foi, um massacre arbitrário de civis inocentes", afirmou.

Ontem, Karzai afirmou que conversas sobre o papel dos EUA depois que a Otan entregar a responsabilidade pela segurança do país a Cabul, no fim de 2014, continuarão.

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