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China expurga dirigente e realça disputa

Bo Xilai, expoente da ala conservadora do Partido Comunista, é afastado às vésperas de troca de comando no país

Sua presença no maior órgão do PC era certa; estopim da queda é um escândalo envolvendo seu homem de confiança

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

O Partido Comunista afastou ontem o líder neomaoista Bo Xilai do comando da região de Chongqing.

A decisão é a maior reviravolta na política chinesa dos últimos anos ao tirar do páreo um dos favoritos para o Comitê Permanente, órgão máximo do país, meses antes de sua renovação.

O anúncio foi dado pela agência de notícias estatal Xinhua. O comunicado de três frases informou que Bo Xilai será substituído pelo vice-premiê Zhang Dejiang, segundo decisão do Comitê Central do partido.

Anteontem, o premiê Wen Jiabao havia criticado Bo, representante de uma ala conservadora do partido, que defende o resgate de ideais ligados à época do líder máximo do comunismo chinês, Mao Tse-tung, morto em 1976.

Wen afirmou que "uma tragédia histórica como a Revolução Cultural [1966-76] pode acontecer novamente", uma alusão a Bo, que costuma usar símbolos do período em que centenas de milhares foram mortos ou punidos por perseguição política.

O premiê criticou também um confuso episódio envolvendo o ex-chefe da polícia de Chongqing Wang Lijun.

Ex-homem de confiança de Bo, no início de fevereiro ele fugiu para um consulado dos EUA em busca de asilo. Após várias horas, deixou o prédio diplomático e está preso e é investigado por corrupção.

O caso atingiu em cheio Bo, até há pouco favorito para assumir uma das nove cadeiras do poderoso Comitê Permanente no fim do ano.

Bo Xilai, 63, destoa do perfil discreto dos dirigentes chineses. Fala frequentemente com a imprensa e promovia grandes espetáculos públicos de dança e música, carregados de nostalgia maoista.

Ex-ministro do Comércio, assumiu a chefia do PC em Chongqing em 2007. Ganhou fama pelo combate à máfia na cidade, uma região administrativa especial com 28 milhões de habitantes.

"Isso não é uma renúncia. É uma demissão ou expurgo", escreveu Cheng Li, do Instituto Brookings, para o blog "China Real Time Report".

"O cenário mais amplo é que a campanha aberta de Bo por poder e seu uso da mídia para mobilizar apoio estilhaçaram a fachada de unidade no topo do partido. Essa campanha, e não qualquer coisa que tenha feito em Chongqing, foi a razão pela qual tiveram de se livrar dele", disse, no mesmo blog, Susan Shirk, cientista política da Universidade de San Diego.

A saída dele foi o tema mais popular nos microblogs chineses ontem. Houve mais de 1,6 milhão de comentários até o final da tarde, com opiniões divididas.

"Ele é talentoso, direto e assertivo quando age", disse Wang Quanjie, representante da província de Shandong.

Colaborou SUN NINGYI

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