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Análise

Queda de autoridade mostra fissuras internas do partido

DAVID PILLING
DO “FINANCIAL TIMES”

A ironia do expurgo de Bo Xilai, o ruidoso e carismático chefe do Partido Comunista na cidade de Chongqing, é que ele talvez fosse o mais popular político do país.

Questionadas em 2011 sobre Bo, diversas mulheres de meia-idade de Chongqing ergueram os polegares simultaneamente: "Amamos Bo".

O hábito de Bo de apelar diretamente ao público, desconsiderando as formalidades do Partido Comunista chinês, certamente contribuiu para sua queda.

Bo também era mestre da retórica populista, o que nem sempre funciona em um país comandado por um partido único que se vê como fonte legítima de todo poder.

Sua demissão é um lembrete útil de que o sistema político da China não é a máquina política bem azeitada que muita gente imagina.

Como a produção de leis e salsichas, o lado de dentro do Estado unipartidário não tem nada de bonito, e normalmente não fica exposto.

Mas as selvagens disputas entre facções se tornam visíveis, ocasionalmente, em momentos de transição geracional, nos quais um comitê permanente transfere poder ao seu sucessor, como acontecerá no fim deste ano.

O que muitos viram como uma sucessão perfeitamente coreografada, neste ano, com a substituição de Hu por Xi Jinping, levou muitos observadores a acreditar que disputas ferozes pelo poder eram coisa do passado.

Ao contrário de Bo, Xi não causa incômodos nem apresenta uma visão alternativa ao domínio comunista.

Os dramáticos acontecimentos que cercam a queda de Bo revelam que o Partido Comunista nada tem de monolítico. Há disputas entre facções da espécie mais primitiva e um confronto ideológico pela alma do partido.

É evidente que há muito em jogo, no cerne da ideologia comunista. A principal eleição deste ano ocorre não nos EUA, mas na China.

Tradução de Paulo Migliacci

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