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Em funeral, judeus afirmam ser vulneráveis

Vítimas de massacre são enterradas em cerimônia emotiva em Israel; franceses reclamam de hostilidade crescente

Na avaliação de líder da comunidade judaica em Toulouse, porém, atentado não deve provocar um êxodo

Menahem Kahana/France Presse
Ortodoxos e familiares levam corpo de Gabriel Sandler, 3, durante funeral em Jerusalém
Ortodoxos e familiares levam corpo de Gabriel Sandler, 3, durante funeral em Jerusalém

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

As quatro vítimas do atentado terrorista na França foram sepultadas ontem em Jerusalém em clima de perplexidade e preocupação com a vulnerabilidade das comunidades judaicas na Europa.

Centenas de pessoas foram ao cemitério de Har Menuchot (Monte do Descanso), entre eles muitos franceses, os que vivem em Israel e os que vieram especialmente.

O massacre que deixou três crianças mortas na escola judaica de Toulouse causou choque, mas não foi uma total surpresa para eles.

A atmosfera de hostilidade virou coisa do dia a dia para muitos judeus franceses.

"Era normal que grupos de muçulmanos nos esperassem na estação de trem", diz Jonathan Bibas, 23, que há seis anos saiu de Marselha (sul da França) e se mudou sozinho para Israel.

Após uma longa e emotiva cerimônia, foram enterrados os corpos do rabino Jonathan Sandler, 30, professor da escola, seus filhos Arie, 6, e Gabriel, 3, e Miriam Monsonego, 8, filha do diretor.

O professor era cidadão francês, e as três crianças tinham dupla cidadania franco-israelense.

O que mais chocou os judeus franceses foi a crueldade do crime. Segundo testemunhas, depois de ser perseguida pelo terrorista, Miriam foi agarrada pelos cabelos e levou um tiro na cabeça. Em seguida, mais um.

Antes do enterro, o irmão mais velho de Miriam, Avishai Monsonego, disse que sentia "o mesmo que os judeus sentem há 2.000 anos: a dor de ter um parente assassinado por ser judeu".

Presente no enterro, o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, prometeu segurança reforçada em escolas e sinagogas.

"Seu luto, sua dor, também são nossos. Toda a França está em choque", disse.

O cortejo foi acompanhado por centenas de judeus ortodoxos, que formaram uma longa corrente de vestes e chapéus negros nas estreitas alamedas do cemitério. As vítimas eram ortodoxas.

Um dos líderes seculares da comunidade judaica de Toulouse, Thierry Boaz, disse à Folha por telefone que recebeu muitas mensagens de apoio de franceses, afirmando que consideram o crime uma tragédia nacional.

Estimada em 500 mil pessoas, a comunidade judia da França é a maior da Europa e a terceira maior do mundo. Mais de metade está em Paris. Em Toulouse, diz Boaz, há cerca de 20 mil. Muitos, como ele, preferem manter a vida judaica dentro de casa.

"Não é recomendável sair na rua de quipá [solidéu]", afirma, para evitar hostilidades de moradores árabes.

A ascensão do islã radical no país e o ódio a Israel multiplicaram o número de incidentes antijudeus na França, levando muitos a quererem deixar o país nos últimos anos. Vivem em Israel 120 mil judeus franceses.

Boaz, porém, não acredita que o atentado provocará um êxodo. "Somos franceses, este é o nosso país", diz ele.

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