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'Europa precisa elevar salário para crescer'

Thomas Palley, doutor pela Universidade Yale (EUA), defende maior distribuição de renda para superar crise

Ele recomenda ao Brasil que reduza a taxa de juros para estimular investimento produtivo e barrar especuladores

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Para voltar a crescer, a Europa precisa de três coisas: criar um "banqueiro de governo", aumentar salários e distribuir renda. O plano é do economista Thomas Palley, doutor pela Universidade Yale (EUA) e membro da New America Foundation.
Palley, que participou de debate em São Paulo na Fundação Getulio Vargas, opina que o Brasil deve mudar sua política. Para ele, é necessário mandar uma mensagem clara ao mercado: "A era das altas taxas de juros acabou".

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Folha - Por que o atual acordo sobre a Grécia não é suficiente para resolver os problemas?
Thomas Palley - Há uma tremenda incerteza econômica e política. O acordo comprou algum tempo. A eurozona precisa consertar os seus problemas. Foi criada uma separação completa entre o sistema monetário e os Orçamentos dos governos. Foi um desenho neoliberal intencional com objetivo de limitar o poder do Estado. Os governos ficaram muito vulneráveis a especulações e foi dado um tremendo poder econômico e político aos bancos.

Qual é o seu plano?
Estabelecer uma autoridade financeira europeia, que lançaria bônus que seriam garantidos coletivamente por todos os países. Financiariam os deficit a partir de uma determinada quantia para todos os países. Tudo seria feito baseado no critério per capita. Assim, todo o país e todo o cidadão seriam tratados da mesma forma.

O que a Alemanha diria?
A Alemanha não gosta de fazer nada coletivamente. Não quer criar um arranjo financeiro europeu público. A autoridade financeira não gastaria o dinheiro; os governos gastariam. Não criaríamos uma união fiscal. Criaríamos um mecanismo para levantar dinheiro. Precisamos recriar um sistema que coloque o banco central à disposição dos governos. É preciso dar à Europa um "banqueiro de governo".

Há chance de isso acontecer?
Começam a se mover. O Fundo de Estabilidade Financeira é um mecanismo pela metade, de emergência. Se quisermos prosperidade na Europa, precisamos de um mecanismo permanente que ajude os governos a financiar os seus deficit. Além disso, a Europa tem uma tremenda escassez de demanda. É preciso começar a aumentar salários na Europa e melhorar a distribuição de renda.

A democracia está ameaçada pela crise financeira?
Muito. Tivemos uma experiência neoliberal por 30 anos. Os salários estagnaram, a desigualdade aumentou e terminamos com uma crise financeira. A solução real é reverter as políticas neoliberais. Meu medo é que todos os problemas econômicos e o desemprego em massa possam desencadear uma política feia, o fascismo.

Mas a social-democracia foi parceira do neoliberalismo.
Sim, é um problema. Muitos partidos social-democratas adotaram uma versão soft do neoliberalismo nos anos 1990 e 2000. Perderam parte de sua credibilidade política.

Quais os riscos para o Brasil?
A Europa é um grande mercado para os produtos brasileiros. Há sinais de que a economia chinesa não está tão forte. O problema de longo prazo para o Brasil é a sua taxa de câmbio sobrevalorizada. O ministro fala em guerra cambial, mas a guerra cambial a que ele precisa estar atento é com a China.

O que o Brasil deveria fazer?
Baixar taxas de juros, altas para os padrões mundiais. Continuar a melhorar a distribuição de renda para haver demanda por manufaturados brasileiros. O Brasil tem um enorme mercado interno, que pode sustentar o crescimento.

Quais seriam suas sugestões, além de baixar os juros?
As taxas de juros são o ponto crítico. É preciso ser verossímil na mensagem de que o Brasil vai para um período de baixas taxas de juros. Se as pessoas acreditaram que as reduções nas taxas de juros são apenas temporárias, o fluxo de capital para o Brasil vai continuar. A política que o Brasil precisa é se tornar atrativo para os investimentos industriais, não para os investimentos especulativos.

Quais são os obstáculos?
É muito difícil desafiar a finança. Quando Lula e o PT chegaram ao poder, desistiram de desafiar o mercado financeiro. No passado, o Brasil foi refém do mercado porque tinha muita dívida em dólar. Não é mais o caso.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1066530

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