Análise

Com escolha inesperada, EUA perdem chance de planejar futuro para o banco

ROBIN HARDING
ANDREW JACK
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON E LONDRES

Qualquer indicado pelos EUA para candidato à presidência do Banco Mundial precisaria de habilidade de gestão e experiência internacional.

Desta vez, porém, o indivíduo em questão também precisaria da estatura, do intelecto ou do compromisso com o mundo em desenvolvimento necessários para superar o gosto desagradável deixado pelo monopólio americano da presidência da instituição.

A escolha inesperada de Jim Yong Kim, especialista em saúde e reitor do Dartmouth College, parece fazer justamente isso, mas por pouco.

Falta a Kim a experiência diplomática e financeira de sua rival, a ministra nigeriana das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala. E Kim não possui o histórico impressionante em economia do ex-ministro das Finanças colombiano José Antonio Ocampo.

Isso significa que pode haver obstáculos no caminho de Kim. Mas seus muitos anos de trabalho com saúde pública no mundo em desenvolvimento, sua reputação acadêmica e o fato de ter nascido na Coreia do Sul devem significar que os aliados dos EUA poderão apoiá-lo sem qualquer problema.

O que talvez tenha se perdido com a escolha de Kim, contudo, é uma chance de os EUA mapearem um futuro para o Bird em um mundo em que muitos dos clientes de longa data do banco começaram a crescer rapidamente e a prescindir do apoio da instituição.

O presidente do Banco Mundial precisará lidar com novos credores, como a China, que às vezes competem com o órgão ao fazer empréstimos com menos condições a países em desenvolvimento.

Uri Dadush, associado sênior do Carnegie Endowment for International Peace, elogiou o compromisso de Kim com o desenvolvimento, mas questionou como ele lidará com o lado econômico do cargo. "Não se pode criar desenvolvimento unicamente a partir de educação e saúde."

Já um especialista em saúde alerta: "Sua experiência com a Aids é um trunfo político forte, mas o mundo do Banco Mundial é duríssimo".

Tradução de CLARA ALLAIN