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Papa Bento 16 chega a Cuba e cita 'presos'

Pontífice faz menção genérica, mas suficiente para tocar em ponto sensível, dos encarcerados por se opor ao regime

Dissidentes denunciam que regime comunista continua intensificando repressão; 150 já teriam sido presos até ontem

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O papa Bento 16 desembarcou ontem em Cuba dizendo levar em seu coração as "aspirações justas e legítimas" de todos os cubanos, incluindo os que deixaram a ilha e "os presos e suas famílias".

A menção do pontífice aos presos foi genérica, não apenas aos políticos. Mas foi suficientemente ampla e ambígua para tocar em um tema delicado para o regime comunista: o dos encarcerados por fazer oposição ao governo.

"Levo em meu coração as justas e legítimas aspirações de todos os cubanos, onde quer que estejam, seus sofrimentos e suas alegrias [...]. De maneira especial aos jovens e anciãos, adolescentes e crianças, doentes e trabalhadores, os presos e suas famílias e os pobres", disse Bento 16, num breve discurso em espanhol, após chegar a Santiago de Cuba, no leste da ilha.

Há semanas grupos de dissidentes insistem em que o papa deve abrir espaço em sua agenda de três dias na ilha para recebê-los ou, pelo menos, deve falar publicamente de violações de direitos humanos e falta de liberdades individuais em Cuba.

Enquanto isso, o governo Raúl Castro demonstra não hesitar em abortar ou abafar manifestações de opositores. Segundo grupos de dissidentes, ao menos 150 foram detidos desde o último sábado.

A blogueira Yoani Sánchez acusou o regime de tentar impor um "apagão da censura". Ela disse não estar recebendo e-mails nem ligações, e garantiu que havia mais "cubanos com telefones cortados".

APOIO ÀS REFORMAS

A presença do papa, 14 anos após a histórica visita de João Paulo 2º, consolida o papel da igreja como principal agente não estatal em Cuba.

A instituição tem espaço crescente na discussão das reformas na ilha, a despeito das críticas feitas pelo papa ao marxismo antes de chegar.

Bento 16 disse que Cuba "se esforça para renovar seus horizontes". Afirmou que a passagem do antecessor abriu "nova etapa" nas relações e pediu mais espaço para a igreja "no âmbito da sociedade".

O papa rezou uma missa ao ar livre ontem em Santiago. Foi recebido com um discurso do bispo de Santiago, Dionisio Ibáñez, que pediu ajuda para que os cubanos "não tenham medo" de buscar uma solução para os problemas nacionais com a "participação de todos".

Em sua homilia, Bento 16 disse que é "comovedor" como Deus respeita a liberdade e "parece necessitá-la".

Antes da cerimônia, um dissidente conseguiu furar a barreira policial para protestar contra o regime. Ele foi retirado, e, segundo mostraram imagens de canais privados, apanhou dos seguranças.

Hoje à tarde, ele deve viajar para Havana, onde encerra a visita com uma missa amanhã.

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