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Análise

Coreografia delicada resulta em ganhos para ambos os lados

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em janeiro de 1998, João Paulo 2º foi o primeiro visitante estrangeiro a reunir em Cuba multidões para falar mal do comunismo. Bento 16 será agora o segundo.

Mas há diferenças importantes entre as viagens. Há pouco mais de 14 anos, os católicos cubanos eram estigmatizados pelo dogmatismo dos dirigentes, que, na prática, proibiam a comemoração do Natal e discriminavam os fiéis no mercado de trabalho.

As coisas evoluíram, e o cardeal de Havana, Jaime Ortega, tem agora bem mais liberdade para, com a devida prudência, atuar nos campos laico e político.

Fidel em 1998 era, no máximo, um pragmático que abriu o país a investimentos externos para compensar o colapso do "socialismo real" do Leste Europeu. Hoje, seu irmão Raúl reconhece a urgência de novas reformas, embora a timidez conservadora dos "apparatchik" não preveja mudanças fundamentais.

O fato é que governos estrangeiros e a igreja cubana não têm as munições necessárias para impor uma transição. É internamente, com a sociedade e grupos embrionários de oposição, como as Damas de Branco e militantes por direitos humanos, que se produz o fermento democrático. Ele cresce em espaços abertos pela estupidez e pela fragilidade da ditadura.

Circulava há 12 anos a preocupação de que o papa, ao "legitimar" como interlocutores os dirigentes locais, daria a eles uma sobrevida institucional. Bobagem. Tanto quanto agora, os dois lados, Cuba e o Vaticano, saem ganhando com a coreografia delicada do confronto.

A igreja cumpre sua missão de falar aos fiéis, mesmo em territórios politicamente hostis, enquanto o regime tenta negar seu isolamento e instrumentaliza um visitante de prestígio internacional.

E, para que a visita seja um sucesso, a ditadura mobiliza servidores e membros do partido para assistirem missas ao ar livre e agitarem bandeirinhas. Tudo transmitido ao vivo pela TV estatal, como já ocorrera com João Paulo 2º.

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