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Turquia aposta em colapso econômico pacífico da Síria

De acordo com o embaixador no Brasil, Ersin Erçin, intervenção militar é "linha vermelha" para atuação turca no conflito regional

CAROLINA VILA-NOVA
DE SÃO PAULO

Sob crescente pressão por um envolvimento militar no conflito sírio, a Turquia é categórica. "Essa é uma linha vermelha", diz o embaixador turco no Brasil, Ersin Erçin.

Ancara, afirma ele, espera que o colapso econômico provocado pelas sanções contra o regime de Bashar Assad, aliado a uma maior organização da oposição, determine a transição para uma Síria democrática. Leia a entrevista concedida à Folha em São Paulo na última quarta-feira.

Folha - A Turquia é um dos patrocinadores do grupo "Amigos da Síria", que o governo brasileiro não apoia. Há alguma chance de cooperação?
Ersin Erçin - Um ponto na perspectiva brasileira é a comunidade de origem síria no país, de maioria cristã maronita e influenciada pela retórica do regime. Eles pensam que haverá caos se o regime atual for derrubado e temem que o vácuo seja preenchido por grupos islâmicos radicais, como a Irmandade Muçulmana. Mas a Turquia nunca apoiará um grupo radical islâmico no poder.
O Brasil se preocupa também com ataques aéreos no estilo do que houve na Líbia, mas as condições são distintas. O Brasil tem um passado limpo, não é hegemônico e tem uma percepção diferente da região. Por isso damos a maior importância à participação brasileira.

A Turquia é favorável à ideia de armar os rebeldes?
As condições não estão maduras. Na Líbia, havia uma oposição bem definida.

A criação de uma zona-tampão na fronteira implicaria uma participação militar?
Queremos evitar qualquer participação militar, a menos que seja estritamente necessária. Não queremos pensar que essa opção está na mesa. Para nós, é o último recurso. A zona-tampão é apenas para evitar os efeitos colaterais do conflito e facilitar a passagem de sírios para a Turquia.

É possível pensar numa solução que não seja militar?
A rejeição das duas últimas resoluções da ONU mostra que as chances de uma zona de exclusão aérea ou uma intervenção são quase nulas.
Há 40 anos, o regime tem uma imensa experiência de resistência, uma imensa rede de inteligência, está infiltrado nas células da sociedade. Será uma crise longa.
A economia síria, por causa das sanções unilaterais, está entrando em colapso. Mais de 1 milhão de pessoas está à beira da fome. À medida que as condições de vida das pessoas pioram, um pilar do regime se desmantela.
Eles se tornaram uma máquina de matar. Se as pessoas têm fome e não têm nada a perder, farão qualquer coisa. Nosso desejo é que esse colapso ocorra de modo pacífico e sem intervenção militar.

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