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Moisés Naím Dilma vem a Washington Relacionamento entre Brasil e EUA continuará a ser uma história de oportunidades perdidas "A Casa Branca deveria propor um tratado econômico bilateral que o líder brasileiro não poderia recusar. Um acordo como esse seria, evidentemente, uma grande aposta para um presidente norte-americano que enfrenta muitas dificuldades em outros lugares. Mas os benefícios para os dois países e o restante da região seriam consideráveis." Escrevi isso há dez anos. Os presidentes que eu esperava assinassem o acordo histórico eram Bush e Lula. Nada aconteceu, é claro. Dois anos atrás, quando Dilma Rousseff se tornou presidente, escrevi outra coluna, dessa vez encorajando a líder brasileira a tomar a iniciativa e apresentar a Barack Obama uma proposta que ele não poderia recusar. Uma vez mais, nada aconteceu. A presidente Rousseff está chegando a Washington para uma visita ao presidente norte-americano na segunda-feira e, uma vez mais, nada de importante acontecerá. Isso é lastimável, porque poucos outros relacionamentos bilaterais são tão concreta e imediatamente promissores para esses países quanto aprofundar as relações entre eles. É claro que Washington tem muitos outros relacionamentos bilaterais obviamente mais importantes (com China ou Rússia, por exemplo). Mas seu potencial de inovação é limitado, e a evolução inercial é o mais provável cenário para eles. Não é esse o caso no que tange ao Brasil, com o qual um acordo poderia ser profundamente transformador e alterar uma tendência que resultará em os EUA não se beneficiarem muito do sucesso econômico brasileiro e o Brasil correr o risco de se distanciar de uma potência geopolítica de cujo apoio necessita para atingir suas ambiciosas metas. Infelizmente, o relacionamento entre Brasil e EUA continuará a ser uma história de oportunidades perdidas, na qual acordos modestos são comemorados como transformações históricas enquanto os dois gigantes persistem em sua incapacidade de criar uma aliança que pode mudar a eles e ao mundo. Existem muitos motivos para essa incapacidade de EUA e Brasil de promoverem iniciativas bilaterais ambiciosas. Um deles é que a ascensão brasileira e o sucesso do país coincidiram com um período no qual Washington estava consumida por ataques do 11 de Setembro, duas guerras e colapso financeiro. Washington não tinha tempo para a América Latina ou o Brasil. Por outro lado, como aspirante a potência mundial, o Brasil não é um parceiro fácil. Os brasileiros esperam de Washington os mesmos respeito, consideração e atenção conferidos às demais potências importantes. Um país cuja economia superou a britânica e agora é a sexta maior do mundo tem dificuldades para engolir essa diferença de tratamento. Um funcionário do governo americano me disse que o "Brasil é a França da América Latina, e seu obstrucionismo muitas vezes deriva da necessidade de afirmar poder recém-adquirido. O que não compreendem é que essas táticas têm efeito corrosivo". Uma década atrás, escrevi que todo o necessário para criar uma nova e ambiciosa aliança era que o presidente norte-americano e seu colega brasileiro demonstrassem bravura política e apetite histórico. Isso continua válido.
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