Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Banco é quase uma extensão do Tesouro dos EUA, que o monitora todo o tempo

MARCOS CARAMURU DE PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O ideal último dos bancos de desenvolvimento é deixar de existir. As experiências de Brasil, China e México com o Banco Mundial dizem algo a respeito.

Houve tempo em que os empréstimos do banco eram essenciais para financiar nossos projetos ou fechar o balanço de pagamentos. Tínhamos baixa condição de captar no exterior, o banco se apresentava como fonte disponível e barata de crédito.

Em contrapartida, como ele era visto como tendo acesso a informações privilegiadas, qualquer palavra crítica era o suficiente para afastar os mercados do Brasil.

A partir dos anos 90, o banco voltou-se para a área social. Também a partir daí começou a ficar pequeno.

Os empréstimos para a China em 2011, por exemplo, totalizaram US$ 1,7 bilhão, cerca de 0,5% do volume de reservas do país, 10% do saldo comercial apenas de dezembro passado. O programa com o Brasil até 2015 prevê desembolsos de US$ 5,8 bilhões, cerca de 0,5% do Orçamento federal para 2012.

A China e o Brasil mantêm uma carteira mais para contar com a assessoria intelectual do banco nas suas várias esferas de reflexão do que para sacar recursos.

O Banco Mundial escolherá o seu 12º presidente. Os últimos cinco foram figuras com backgrounds diversos. Barber Connable era ligado a Nixon; Lewis Preston, veterano do JPMorgan; Jim Wolfensohn, homem do mercado financeiro ligado às não governamentais; Paul Wolfowitz, ex-vice-ministro da Defesa; Robert Zoellick teve experiência em comércio exterior.

Visto desse ponto, é até possível dizer que o banco funciona sozinho ou que o importante é saber quem será a chefia no segundo nível.

Já se tentou tornar a escolha do presidente um processo competitivo. Sem sucesso. O banco fica quase na esquina do Tesouro americano.

Suas políticas e ações são monitoradas pelos EUA, os maiores doadores do braço assistencial, a IDA, que empresta aos países de baixa renda. Congressistas em Washington não manteriam seu aporte regular se a instituição fosse percebida como fora do controle americano.

Para os países não desenvolvidos emplacarem um candidato teriam que ter mais quotas no capital e, sobretudo, estar unidos em torno de um nome. Nunca estão.

Agora mesmo há dois candidatos: a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala e o colombiano José Antonio Ocampo. Ambos com credenciais, mas mínima ou nenhuma chance.

Os EUA parecem dar uma mensagem com a candidatura de Jim Kim, que está no seu currículo: um sanitarista, com projetos bem-sucedidos na extensão do tratamento da Aids e de doenças que afetam populações de baixa renda. Cabe a Kim demonstrar que a visão do seu patrocinador não será todo o conteúdo que trará à sua gestão.

MARCOS CARAMURU DE PAIVA foi diretor-executivo do Banco Mundial e é colaborador do blog Vista Chinesa, da Folha.com

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.