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1971 - 'Um cara e tanto'

Emilio Garrastazu Médici e Richard Nixon

DO RIO
DE SÃO PAULO

William Rogers, secretário de Estado dos EUA: "Eu acho que esse Médici é uma boa ideia".

Richard Nixon, presidente dos EUA: "Ele é um cara e tanto, não é?".

Rogers: "Estou feliz que ele esteja no nosso lado".

Nixon: "Forte e, uh, você sabe [risos]. Queria que ele estivesse governando todo o continente".

Registrada pela Casa Branca, a conversa ocorreu durante a visita oficial de Médici (1969-74) a Nixon (1969-74), em dezembro de 1971, período mais repressivo da ditadura.

Henry Kissinger, assessor de Segurança Nacional de Nixon, defendia uma "parceria especial" com o Brasil, que vivia o "milagre econômico" e reivindicava tratamento diferenciado em relação aos demais latino-americanos.

A "subversão" na América Latina foi destaque entre os tópicos definidos para a conversa dos presidentes, segundo telegrama do chanceler brasileiro, Mário Gibson Barbosa, que pediu segredo à embaixada em Washington.

Nixon perguntou a Médici se acreditava que os militares do Chile eram capazes de derrubar o presidente socialista Salvador Allende. O general "deixou claro que o Brasil estava trabalhando para esse objetivo", segundo Kissinger.

O Itamaraty temia protestos contra Médici. Gibson avisou os americanos que a viagem deveria ser "cercada da maior simpatia e livre de qualquer incidente".

Na conversa, Médici chamou as disputas bilaterais de "briga de amantes". Na época, os EUA impunham restrições a produtos brasileiros, como café solúvel, e reclamavam da ampliação para 200 milhas do mar territorial.

A repressão no Brasil era alvo da Subcomissão de Assuntos Hemisféricos do Senado, presidida pelo senador Frank Church, cuja presença em cerimônias da visita foi vetada por Gibson.

Nixon perguntou a Médici se ele era popular. O brasileiro disse acreditar "que o povo realmente apoia o que ele estava tentando fazer -continuar o trabalho da revolução de 1964".

No brinde público, Nixon, que renunciaria em 1974, voltou a cortejar o visitante: "Sabemos que, para onde o Brasil for, o resto da América Latina também irá".

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