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Análise Dilma nos EUA

Relação tende a depender menos de governos

Empresas, universidades, associações etc. podem vir a ser atores tão ou mais relevantes que diplomatas

Estados podem e devem eliminar obstáculos para que os personagens da sociedade atuem no diálogo binacional

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto Dilma e Obama repetiam na Casa Branca frases feitas e vazias, o Facebook anunciava a compra por US$ 1 bilhão (R$ 1,8 bilhão) do Instagram, empresa que tem entre seus criadores um jovem brasileiro.

O contraste dá espaço à hipótese de que as relações internacionais tendem a depender cada vez mais da ação das sociedades de cada país e menos de seus governos.

Empresas, universidades, produtores culturais, associações de classe, sindicatos, cientistas podem vir a ser atores tão ou mais relevantes no diálogo binacional que diplomatas, ministros, parlamentares, presidentes.

O que os Estados podem e devem fazer é não criar obstáculos para que os personagens da sociedade atuem e, se possível, eliminar os já existentes e fomentar mais oportunidades para sua integração.

É o que vem mesmo ocorrendo. Uma das poucas notícias da reunião de ontem em Washington foi o anúncio de que dois consulados americanos serão abertos (na verdade, reabertos, pois existiam até meados da segunda metade do século 20) em Belo Horizonte e Porto Alegre.

Trata-se do reconhecimento do governo americano de que o aumento do fluxo de turistas brasileiros para os EUA precisa ser mais bem canalizado pelas suas autoridades consulares.

Da mesma maneira, outra novidade, o reconhecimento da denominação de origem da cachaça brasileira, é reação ao trabalho de agentes privados que intensificaram muito a exportação do produto do Brasil para os Estados Unidos.

Seria excelente se os governos dos dois países se dedicassem a, por exemplo, acabar com a bitributação, eliminar os muitos entraves alfandegários nos dois lados, acabar com a exigência de visto de entrada. Tudo isso vai acabar acontecendo, se o volume de negócios o impuser.

É claro que os Estados sempre vão manter sua importância, e não apenas como instrumento facilitador dos negócios particulares.

Mas, na maior parte dos temas fundamentais, as coisas entre os Estados Unidos e o Brasil vêm vindo bem há muito tempo e tendem a continuar assim.

Isso graças, inclusive, ao comportamento muito menos performático da política externa do atual governo brasileiro em relação ao anterior e ao entendimento das vantagens do multilateralismo do atual governo americano em contraste com o anterior.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa" e autor de "Correspondente Internacional" (editora Contexto)

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