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Julia Sweig Como medir a viagem de Dilma O comunicado de Brasil e EUA oferece a sensação de que começamos a tecer elos entre nossas sociedades Para medir o sucesso da visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA, os observadores céticos, especialmente os jornalistas, estão em busca de provas de que Washington está disposta a oferecer algo ao Brasil -na forma de um acordo comercial, de um endosso à candidatura brasileira a posto permanente no Conselho de Segurança da ONU ou da coroa de liderança que a competência social e econômica, as credenciais democráticas e a importância mundial do Brasil fazem por merecer. Tudo isso pode, e deve, se materializar. Até lá, Dilma não tem tempo a perder se preocupando enquanto o aparelho de Estado em Washington coloca isso em curso. Em lugar disso, espera que os EUA a ajudem a realizar aquilo para o que foi eleita. E a tarefa é difícil. Ela explicou o desafio brasileiro a audiências americanas em Washington, Boston e Cambridge: criar condições para que as classes médias novas e emergentes se tornem produtivas em ramos de valor agregado, dependentes de capital humano bem treinado e educado. Tempo é fundamental. O Brasil tem uma janela de 30 anos na qual a população economicamente ativa será maior que a de aposentados. Conectar os brasileiros às instituições de pesquisa e educação americanas é essencial para o investimento em capital humano. Expor os brasileiros à cultura americana de inovação e criatividade também é um componente importante da tarefa, como ela disse. E talvez mais difícil. Será que é possível engarrafar essas qualidades que Dilma cita com tamanha admiração? E será que somos os únicos que as temos e podemos exportar? Enquanto eu ouvia a presidente explicar aos americanos a complexidade de eliminar a pobreza extrema ao mesmo tempo em que tenta criar um setor de alta tecnologia, lisonjear suas audiências ao ressaltar o dinamismo e a fluidez de nossa sociedade aberta e apelar a que pensemos duas vezes antes de uma ação militar contra o Irã, ou que reconheçamos a inexorável importância das potências emergentes em um mundo multipolar, não pude deixar de pensar que a gestão Dilma incorpora diversas qualidades que o Brasil tem a oferecer aos EUA. Eis algumas delas: otimismo quanto ao futuro; trabalho árduo pelo bem comum; compromisso com a expansão das oportunidades dos mais necessitados e daqueles que começam a progredir; confiança para desafiar o status quo e a correção política, tanto no país quanto no exterior; vontade política para reunir indivíduos de histórias e visões de mundo muito distintas; e, sim, a sensibilidade de uma mulher que sabe que é essencial enfrentar a complexa dinâmica de gênero e poder para permitir um pleno florescimento da democracia. O comunicado conjunto de Brasil e EUA oferece aos leitores não céticos uma sensação completamente surpreendente de que estamos mesmo começando a tecer elos substanciais entre nossas duas sociedades. Escreverei mais sobre as dimensões de nossa descoberta mútua, sobre a política dos EUA e sobre questões mundiais em minhas futuras colunas. Ainda que a visita da presidente Dilma não tenha realizado tudo que possa, seu foco, sobriedade e inteligência demonstraram que o Brasil dispõe de amplas reservas das mesmas qualidades que ela espera reproduzir. Deveríamos aproveitar e atravessar a porta que a presidente Rousseff abriu para os EUA. JULIA SWEIG é diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations
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