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Em meio a violência, começa trégua síria

Cessar-fogo costurado por ex-secretário da ONU Kofi Annan entra em vigor, mas 23 morrem em ofensiva do regime

Governo diz que houve retirada parcial de forças de segurança e impõe novas condições para suspender ataques

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O cessar-fogo estabelecido pelo plano de paz da ONU e da Liga Árabe entrou ontem em vigor, mas a violência na Síria não deu sinais de trégua, confirmando o ceticismo que cerca a iniciativa.

Embora o regime afirme que começou a retirar tropas de algumas regiões do país, como prevê o plano, a oposição relatou que o Exército manteve a ofensiva, deixando ao menos 23 mortos.

Num esforço para manter a esperança em uma solução pacífica, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, disse que o plano "está vivo" e que não há alternativa a ele.

"É um pouco cedo para dizer que o plano fracassou", disse Annan na Turquia, onde visitou campos de refugiados sírios. "O plano ainda está sobre a mesa e estamos lutando para que ele seja implementado."

O otimismo de Annan tem prazo de validade limitado. De acordo com seu plano, os dois lados do conflito têm 48 horas para respeitar o cessar-fogo a contar de ontem. O prazo vence às 6h de quinta-feira (meia-noite de hoje no horário de Brasília).

Em visita à Rússia, o chanceler da Síria, Walid Moallem, disse que unidades do Exército foram retiradas de algumas províncias do país e acusou "grupos terroristas" pela escalada de violência.

No domingo, Damasco fizera uma nova exigência para cumprir o acordo: que a oposição se comprometa por escrito com a trégua. Ontem, Moallem acrescentou mais uma: que o cessar-fogo seja implementado simultaneamente ao envio de observadores internacionais. Ambas as exigências não constam do acordo original, que o regime havia aceitado.

Com o iminente fracasso do plano de Annan, os esforços internacionais para evitar que a Síria mergulhe numa longa guerra civil caminham de volta ao impasse.

Rússia e China, que bloquearam duas tentativas de impor sanções à Síria no Conselho de Segurança (CS) da ONU, apoiam o plano de Annan, mas insistem em que a oposição faça a sua parte.

Em 13 meses de revolta, mais de 9.000 civis foram mortos pelas forças de segurança sírias, estima a ONU. Mais de mil somente na última semana, segundo o maior grupo de oposição.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, as cidades de Homs, Daraa e Idlib sofreram pesados ataques ontem, e não havia sinais de retirada das tropas.

Membros do ELS (Exército Livre da Síria), a principal força militar de oposição, prometeram intensificar os ataques caso o plano fracasse.

Em uma carta ao CS obtida pela agência Associated Press, Annan diz que o Exército manteve o cerco aos centros urbanos e que as novas exigências do regime colocam o cessar-fogo em risco.

Bernard Valero, porta-voz do ministério do Exterior da França, qualificou a suposta retirada síria de "mentira flagrante e inaceitável". Para a Casa Branca, que também pôs em dúvida a sinceridade síria, é hora de pensar nos "próximos passos".

Entretanto, em meio às divergências no CS e à relutância geral em repetir uma intervenção militar como a executada na Líbia, as opções parecem cada vez mais escassas. Alguns analistas ainda estimam que a diplomacia é a única alternativa.

"É quase certo que a implementação total do plano de Annan nunca foi uma opção", diz um relatório do International Crisis Group. "Mas esta não é uma razão para desistir da diplomacia em geral e da missão de Annan em particular. A prioridade deve ser garantir que o conflito não se agrave".

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