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Soldados do regime à espreita são visíveis do lado turco da fronteira

Região é utilizada por desertores de Assad; dois foram mortos anteontem

KAREN MARÓN
ESPECIAL PARA A FOLHA EM HATAY (TURQUIA)

Por trás das montanhas eram audíveis os disparos provenientes das colinas da Síria e da província de Hatay -na Turquia. Era possível observar, do alto, soldados sírios posicionados nos tetos de edifícios e os movimentos de veículos blindados.

Estamos na fronteira que gerou a ira da Turquia contra o governo sírio, após as forças de Bashar Assad terem violado seu território e matado duas pessoas que tentavam chegar a campos de refugiados anteontem.

Com muitos dos antigos baluartes insurgentes nas mãos do governo, a fronteira se converteu em cenário de impetuosa atividade da oposição, para manter viva a rebelião.

"Decidimos depor o regime e não aceitaremos qualquer negociação caso continuem os ataques à população indefesa", disse à Folha o capitão Ammar Wawi, ex-oficial de inteligência e comandante do batalhão Ababeel do ELS, em Aleppo, que opera de uma base do lado turco da fronteira.

Mas parece que a revolução está a ponto de estancar. As esperanças de intervenção internacional estão desaparecendo, substituídas por um presságio repetido constantemente: sem armas não será possível derrotar o regime.

Apesar disso, na fronteira continuam ativos os corredores para abastecimento das bases do ELS em território sírio, que aproveitam rotas de contrabando.

Mas existe um temor constante de que os informantes do Mukhabarat -o serviço nacional de inteligência sírio- delatem essas ações, que incluem assistência aos refugiados na Turquia, outra tarefa perigosa.

Na província de Hatay, o governo turco está recebendo a maior parte dos soldados desertores em um acampamento especial perto de Apaydin, aldeia de 1.500 moradores.

Lá, sob forte proteção dos serviços locais de inteligência, opera o coronel Riad Assad, líder do ELS. Ele não pode ser visitado por jornalistas, por insistência das autoridades turcas.

As medidas de proteção também servem como forma de controle sobre as ações da insurgência que tomam por base o território turco.

Wawi optou por viver fora do acampamento para ter mais liberdade e poder organizar ações na Síria.

Ele reconhece, prudentemente, a autoridade do coronel Assad e sinaliza que "vivemos uma revolução", o que significa que os generais desertores devem aceitar as novas hierarquias do Exército Livre da Síria.

Segundo ele, o ditador conta com "voluntários" provenientes de Iraque, Irã e Líbano. "Capturamos alguns, mas o governo tem feito o possível para ocultar seus corpos."

Wawi critica a opção pelo diálogo e se mostra reticente quanto ao plano de Kofi Annan. "Reuniões nada fazem para proteger a população civil. O regime será derrubado pelas armas."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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