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Sob ceticismo, Síria adota trégua em parte

Ofensiva é abrandada em regiões do país, conforme acordo com a ONU; falta, porém, retirada de cidades, dizem ativistas

Passo seguinte deve ser o envio de observadores para monitorar acordo; Conselho de Segurança já negocia resolução

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Após meses de escalada sangrenta que resultou em 9.000 mortos e deixou o país à beira da guerra civil, a Síria teve um dia de relativa calma, em meio a um frágil cessar-fogo cumprido parcialmente pelo governo.

Segundo a ONU, a ofensiva das forças de segurança contra focos rebeldes foi abrandada na maior parte do país com a entrada em vigor do plano de paz internacional, na manhã de ontem.

Mas líderes da oposição ressaltaram que o regime não retirou suas tropas dos centros urbanos, como estabelece o plano, e convocaram protestos em massa para hoje, que serão o primeiro teste real do cessar-fogo.

O próximo passo da ação internacional deve ser o envio de observadores para monitorar o acordo, que continua cercado de ceticismo.

Resolução nesse sentido estava sendo negociada no Conselho de Segurança da ONU, desta vez com provável apoio de Rússia e China, que bloquearam duas tentativas de impor sanções à Síria.

O enviado especial para a Síria, Kofi Annan, disse ontem que estava "encorajado" com a redução da violência. "A Síria está relativamente calma, e a suspensão das hostilidades aparentemente está mantida", afirmou.

Em comunicado ao Conselho, porém, ele confirmou que o regime havia cumprido apenas parcialmente o seu plano de seis pontos e que as tropas sírias continuam nos centros urbanos.

Annan recomendou o enviou de uma força de 200 a 250 observadores, mas é possível que um contingente menor seja iniciado para apressar o monitoramento.

"Se conseguirmos colocar 20 ou 30 monitores na Síria no início da próxima semana, será muito bom", disse o embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin.

A "relativa calma" comemorada por Annan não significou o fim do derramamento de sangue. Segundo os Comitês Locais de Coordenação, uma rede de opositores que atuam na Síria, 21 pessoas foram mortas ontem.

Tanques mantiveram as patrulhas nas ruas das principais cidades e atiradores continuaram posicionados nos telhados de prédios, afirmaram os ativistas.

O regime devolveu a acusação, afirmando que os rebeldes tentaram sabotar o plano. Segundo o embaixador da Síria na ONU, Bashar Jaafari, houve oito ataques contra forças do governo.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reiterou a fragilidade do cessar-fogo, dizendo que "ele pode ser quebrado a qualquer momento, com um único tiro".

Adib al Shishakly, do CNS (Conselho Nacional Sírio), maior grupo de oposição, disse que a trégua é insuficiente para abonar o comprometimento do regime. "Diluíram toda a iniciativa a um único ponto, o cessar-fogo. O que houve com os outros seis?"

O plano de Annan inclui ainda o diálogo com a oposição, a libertação de prisioneiros, o acesso de ajuda humanitária e da mídia e o respeito a protestos pacíficos.

Mesmo com o cessar-fogo, o futuro do regime sírio mantém a queda de braço no CS. O plano de Annan não prevê a saída do ditador Bashar Assad, defendida por França, EUA e Reino Unido, mas rejeitada por China e Rússia.

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