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100 anos Titanic

A capital da Irlanda do Norte promoverá até o mês que vem mais de 30 eventos relacionados ao navio, entre exposições, musicais e peças

RODRIGO RUSSO
ENVIADO ESPECIAL A BELFAST

Cem anos após o mais famoso naufrágio da história, Belfast, a cidade em que o Titanic -que "nem Deus afundaria", como se dizia à época- foi construído, quer incentivar o turismo e o orgulho local em relação ao navio.

A capital da Irlanda do Norte promoverá até o mês que vem mais de 30 eventos relacionados ao navio, entre exposições, musicais e peças de teatro.

A principal iniciativa é a abertura de um grande museu, o Titanic Belfast, localizado ao lado do estaleiro em que o navio foi construído e que se intitula "a maior experiência do mundo" para visitantes interessados no assunto. Os ingressos para o museu estavam esgotados desde sua abertura, no início do mês.

Belfast é geralmente associada aos violentos conflitos entre católicos e protestantes, que ainda vivem separados por um muro em algumas regiões da cidade.

Explorar o potencial do Titanic, portanto, é importante para que a cidade seja vista como um novo polo turístico.

A construção do museu custou quase R$ 300 milhões. Toda a área ao redor tem sido revitalizada e é chamada de "bairro do Titanic", pois possui o escritório em que Thomas Andrews projetou o navio e a doca onde foi fabricado.

Esse uso da tragédia não está livre de críticas. O professor de planejamento espacial William Neill, que nasceu em Belfast e hoje dá aulas na Universidade de Aberdeen (Escócia), diz à Folha que as iniciativas são desrespeitosas à memória das mais de 1.500 vítimas do naufrágio de 15 de abril de 1912.

"Temo que as celebrações pelo centenário estejam se tornando uma festa como o Carnaval", lamentou Neill. Para ele, um evento que marcou a cultura mundial está sendo explorado com muito foco na parte comercial.

Os diversos souvenirs, de ímãs a camisetas, vendidos pela cidade, além da fila para ingressar na loja do Titanic Belfast, exemplificam o que Neill critica.

O desrespeito à memória da tragédia e de suas vítimas também preocupa o oceanógrafo e explorador Robert Ballard, responsável por achar os destroços do Titanic no fundo do mar em 1985.

Em entrevista da qual a Folha participou, Ballard comparou o local em que o Titanic está a um cemitério.

"Você não vai a um cemitério para roubar o que está ali, vai? O fundo do mar é um grande museu, mas não há cadeados em suas portas. Muitas pessoas têm saqueado os objetos que estão ali."

O oceanógrafo participa do Titanic Belfast -que não exibe artefatos retirados do fundo do mar- em duas salas, com um vídeo explicando como encontrou o navio.

Segundo ele, o assunto era um tabu na cidade até há poucos anos. Para Neill, "havia um senso de vergonha em Belfast, mas não comentar o naufrágio também tinha razões mercadológicas, pois o estaleiro continuou por muito tempo produzindo navios e queria se dissociar do acidente de 1912", diz.

A campanha de Ballard surtiu efeitos: no início do mês, a Unesco declarou que os destroços do Titanic passaram a ser patrimônio cultural da humanidade e, portanto, devem ser preservados.

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