Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Espanha corta ajuda a exilados cubanos

Política de austeridade leva país a suspender auxílio dado por meio de acordo com o governo socialista de Castro

A maioria teve de entregar a casa em que vivia; um deles, desempregado e com dívidas, se suicidou

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Com uma política de austeridade que irá absorver € 27 bilhões (R$ 65 bilhões) em 2012, a Espanha cortou neste mês toda a ajuda financeira para os 115 dissidentes cubanos e familiares enviados ao país por um pacto com o regime de Raúl Castro.

Sem trabalho, a maioria teve que entregar a casa onde vivia. Um deles, endividado e desempregado, se suicidou na semana passada.

O episódio despertou a revolta de seus compatriotas, que decidiram acampar em frente ao Ministério do Exterior espanhol, em Madri.

Presos pelos regimes de Fidel e Raúl Castro por razões políticas, os 115 cubanos foram enviados à Espanha desde julho de 2010, fruto de um acordo dos dois governos, mediado pela igreja católica.

Pelo pacto, Cuba libertaria os dissidentes da prisão em troca de que deixassem a ilha. Madri se comprometia a acolhê-los e, durante um ano e meio, dar auxílio financeiro de € 579 (cerca de R$ 1.300) e moradia, em um prazo prorrogável em caso de "marginalidade social".

Até agora, só 10% deles estão empregados, segundo a Cruz Vermelha. Com uma política de austeridade em marcha, o governo do Partido Popular decidiu cortar definitivamente a ajuda aos cubanos desde o início de abril.

Oficialmente, o governo nega que o corte tenha relação com a política de austeridade para cumprir a meta de deficit acordada com a União Europeia e fugir de intervenção.

Mas membros do PP confirmaram à Folha que a decisão tem a crise econômica como pano de fundo. A explicação é que o auxílio saía de fundos que sofreram cortes no Orçamento de 2012.

Pelo menos 37 dissidentes cubanos, que chegaram a Madri na última leva, ainda não haviam cumprido nem um ano do auxílio financeiro.

"O que queremos não é ser sustentados pelo governo, mas trabalhar. Eu já me apresentei em 22 convocatórias de emprego", diz Julio Galvéz, do primeiro grupo enviado à Espanha, em julho de 2010.

A notícia sobre o corte do subsídio chegou aos cubanos por meio de ONGs que intermediavam a ajuda, entre elas a Cruz Vermelha. O jornalista cubano Albert Hernández Du Bouchet, 52, que vivia em Palma de Mallorca e não recebia o auxílio desde o mês passado, se suicidou na semana passada. Segundo a polícia, ele foi encontrado enforcado dentro de casa.

Preso em Cuba por dirigir uma agência de notícias acusada de oposição ao regime do país, a independente Habana Press, Du Bouchet foi enviado à Espanha na última leva dos cubanos, em abril de 2011. Foram com ele sua mulher e dois filhos, parte de um total de 650 familiares que acompanham os dissidentes.

"O que mais nos pesa é que trouxemos nossa família e, por nossa causa, eles passam por isso. Em Cuba, fomos presos e torturados, mas éramos só nós", disse à Folha Eduardo Diaz Castellano, que teve que entregar o apartamento em que vivia em Barcelona, para onde foi enviado no ano passado depois de passar 20 anos preso em Cuba.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.