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Nacionalização dá fôlego a Cristina, dizem analistas

DE BUENOS AIRES

Uma vitória de Cristina. Assim define o diretor do instituto de pesquisas Poliarquía, Sérgio Berensztein, o saldo político do governo após o anúncio do projeto que prevê expropriar 51% da YPF.

"Vai melhorar muito a imagem que a população tem dela após uma série de episódios infelizes, como a tragédia de trem do Once, o escândalo de corrupção do vice, Amado Boudou, e o fracasso da estratégia Malvinas", disse o analista político à Folha.

A defesa da nacionalização do petróleo é muito forte na Argentina. Pesquisa encomendada pelo prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri (opositor da presidente), mostra que 46% dos portenhos aprovam a decisão.

Para Berensztein, é um aspecto da cultura política local que se aprofundou com a crise de 2001. "Fortaleceu-se a ideia de que empresas privatizadas são o eixo do mal: se algo vai mal para a sociedade e bem para empresas, é uma legítima injustiça."

A nacionalização ganhou respaldo de membros importantes da oposição, como senadores da União Cívica Radical e socialistas. O cineasta e deputado Fernando Solanas ("O Exílio de Gardel") é um dos maiores defensores.

"A privatização foi um desastre, e a política energética dos últimos 20 anos foi realizada por particulares como se fosse uma operação financeira", disse Solanas à Folha.

Para o diretor, em geral crítico do governo Cristina, "nenhum país latino-americano aceitaria tamanha intervenção nos recursos naturais".

Já o jornalista Jorge Lanata apoia que o petróleo seja nacionalizado, mas discorda do modo de ação do governo.

"Nosso comportamento diante do mercado externo é errático. Não se pode agir desse modo ao mesmo tempo em que se intervém nas importações e se criam barreiras ao que vem de fora", afirmou.

O filósofo Tomas Abraham diz que o discurso do governo tem êxito por apelar ao "relato da liberação". "Celebramos o dia da pátria e atacamos o que é estrangeiro e, por isso, uma ameaça. Ontem as Malvinas, hoje a YPF."

Para ele, porém, o efeito positivo do anúncio será breve. "Sem dinheiro para investir, o governo terá de assinar acordo com alguma empresa de fora. É o limite do argumento nacional."

(SC)

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