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Moisés Naím

Cristina petroleira

Talvez seja só questão de tempo até sua petrolífera precisar de um subsídio para se manter solvente

Pemex, PDVSA e YPF. Essas três petroleiras têm mais em comum que o fato de serem estatais. Ou o fato de seus países de origem -México, Venezuela e Argentina- serem ricos em hidrocarbonetos.

A semelhança mais surpreendente é que, num período em que os preços do petróleo estavam em alta, essas três empresas estavam declinando. Sua produção, reservas e potencial estão mais baixos do que eram e seu desempenho é drasticamente pior do que poderia ser, em vista da geologia rica de áreas sobre as quais elas gozam de um virtual monopólio. Subinvestimento, má administração, acesso limitado a novas tecnologias e tratamento indigno de parceiros estrangeiros são alguns dos males que elas compartilham.

Esses males são, evidentemente, manifestações da politização que as contaminou. E a ingerência política não se limita ao clientelismo e à patronagem que enfraquecem sua capacidade de operar de modo eficiente. Seus governos impõem taxas, regulamentações e controles de preços que as aleijam e, em alguns casos, forçam-nas a realizar funções que não guardam nenhuma relação com sua missão fundamental.

Inevitavelmente, essas empresas são cercadas por rumores de corrupção e negócios tão ruins que provocam suspeitas. O declínio dessas companhias forma um contraste com a ascensão acelerada do Brasil e da Colômbia como países produtores de petróleo. A Petrobras se tornou uma participante global importante no mesmo período em que suas concorrentes latinas menos afortunadas estavam decaindo.

Esse é o contexto no qual a presidente argentina Cristina Kirchner anunciou a nacionalização da YPF. A Repsol "efetuou uma política de pilhagem, não de produção, não de exploração", disse a presidente, quando anunciou a nacionalização. "Ela praticamente inviabilizou o país com suas políticas comerciais, não políticas de recursos."

Parece claro que sua decisão não fez parte de uma estratégia de desenvolvimento. O clientelismo, as disputas entre oligarcas rivais, o populismo e a oportunidade de agradar a um público que se ressente das privatizações dos anos 1990 -todos são fatores que contribuíram para essa decisão.

E, em vista do histórico da Argentina com as nacionalizações, há ceticismo amplo quanto à possibilidade de o governo gerir a YPF. Nos últimos dez anos, a empresa de água de Buenos Aires, a companhia aérea nacional, Aerolíneas Argentinas, e várias empresas de eletricidade privatizadas nos anos 1990 foram nacionalizadas outra vez com argumentos politicamente carregados. Como disse ao jornalista Charles Newberry o economista Jorge Colina, do Instituto de Desenvolvimento Social Argentino, um "think-tank" de Buenos Aires, essas três empresas administradas pelo governo vêm acumulando prejuízos colossais, e no ano passado o subsídio pago a elas pelo Estado foi 80% maior que os gastos com um programa social para a população infantil.

É possível que a Argentina ainda nos surpreenda. Talvez seja só questão de tempo até sua petrolífera nacional também precisar de um subsídio para se manter solvente.

@moisesnaim

Tradução de CLARA ALLAIN

AMANHÃ EM "MUNDO"
Paul Krugman

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