Origem de quase US$ 70 bi para o Fundo não é clara

Apesar do anúncio de que a barreira anticrise do FMI terá ao menos US$ 430 bilhões, a origem de quase US$ 70 bilhões ainda não está clara, ante uma aparente dissonância entre os Brics que deixou, ontem, o Brasil em posição adversa com o Fundo.

A situação levou a chefe do Fundo, Christine Lagarde, a emitir dois comunicados.

O primeiro agradece à China e à Rússia por comunicar os valores de seus aportes de forma privada ao Fundo; enquanto Brasil e Índia recebem um agradecimento à parte, sem cifras.

No segundo, os quatro são parabenizados em conjunto. O FMI atribui a duplicidade a um "erro administrativo".

A Rússia anunciou informalmente que contribuiria com ao menos US$ 10 bilhões.

A posição da China é controversa. Uma fonte na reunião dos Brics disse à Folha que Pequim defendeu evitar valores, enquanto uma pessoa no Fundo familiarizada com os compromissos disse que o país levou um valor ao FMI.

Ainda segundo o Fundo, "alguns países" deram um "espectro de contribuição", que permitiu calcular o total.

A lista de valores oficiais soma US$ 360 bilhões. O Brasil nega ter dado qualquer tipo de piso. A expectativa é que Brasília entre com ao menos US$ 10 bilhões, contribuição que fizera ao mecanismo de resgate à Europa em 2009.

A troca de farpas entre o Brasil e o FMI cresce. Na quinta, Lagarde dissera esperar que os Brics mostrassem apreço ao multilateralismo, contribuindo, "inclusive os que se manifestam [contra]".

O ministro Guido Mantega tem insistido que a declaração de valor seja atrelada ao avanço da reforma do sistema de cotas do Fundo, pendente por conta da lentidão do Legislativo de países como Alemanha e EUA. No comunicado do G20 ontem, o compromisso com a reforma foi reafirmado.

Mantega quer que o cálculo das cotas no FMI mude e leve em conta só o PIB de cada país. Em discurso hoje na Comissão Monetária e Financeira Internacional, Mantega criticará o Fundo, acusando-o de não tratar ricos e emergentes da mesma forma e pedindo revisão de critérios.