Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ex-líder africano tem condenação histórica

Corte da ONU culpa ex-presidente da Libéria Charles Taylor por atrocidades em Serra Leoa; sentença sai em maio

É a 1ª condenação de um chefe de Estado desde o nazismo e deve servir de parâmetro para casos semelhantes

Peter Dejong/Efe
Charles Taylor, durante seu julgamento em Haia
Charles Taylor, durante seu julgamento em Haia

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Numa decisão histórica, uma corte especial da ONU para julgar atrocidades durante a guerra civil de Serra Leoa (no oeste africano) condenou o ex-presidente da vizinha Libéria Charles Taylor, 64, por crimes de guerra e contra a humanidade.

É a primeira vez desde os julgamentos de Nuremberg (1946), sobre crimes dos nazistas, que um ex-chefe de Estado é condenado por um tribunal internacional.

Taylor foi julgado pela Corte Especial para Serra Leoa, localizada em Haia -mas independente do Tribunal Penal Internacional. Ele está detido neste local por receios quanto a sua segurança na Libéria.

Taylor enfrentou 11 acusações, incluindo as de atos desumanos e de recrutamento de crianças como soldados.

Mais de 50 mil pessoas foram mortas no conflito (1991-2002). A promotoria afirma que Taylor, ao apoiar as forças rebeldes em Serra Leoa, teve participação nessa cifra.

A guerra foi marcada pela exploração de minas de diamante, das quais o ex-presidente se beneficiou.

A crise no país africano foi caracterizada pelo uso de crianças soldados, com relatos de desmembramentos levados a cabo por garotos drogados e esfarrapados.

Ficaram famosas as cenas de civis com braços e pernas amputados pelos rebeldes da Frente Unida Revolucionária, que chegou a derrubar o governo eleito.

A sentença de Taylor será anunciada em 30 de maio. Pelas regras do tribunal, não há possibilidade de prisão perpétua ou de pena de morte.

Ele deverá permanecer detido até o dia 16 do mesmo mês, quando haverá audiência. Ainda caberá apelação. Taylor se diz inocente e insiste que tentou promover a paz.

À Folha o porta-voz da corte, Solomon Moriba, disse que a condenação de Taylor terá "extensa repercussão política", podendo enviar aviso para líderes em todo o mundo.

"Se você é um chefe de Estado, não importa o quão forte seja, não pode usar tamanho poder contra seu próprio povo ou qualquer outro povo. Crimes serão punidos."

DIAMANTE DE SANGUE

A sentença ressalta que Taylor armou rebeldes em troca de diamantes. As pedras ficaram conhecidas como "diamantes de sangue". Ele chegou a presentear a modelo Naomi Campbell com algumas.

O caso de Taylor deve abrir precedente para outros julgamentos de ex e atuais chefes de Estado ao redor do mundo.

O Tribunal Penal Internacional, uma corte permanente também sob os auspícios da ONU, tem em sua custódia o ex-presidente da Costa do Marfim Laurent Gbagbo, responsabilizado por um conflito civil em seu país.

O ditador do Sudão, Omar Bashir, foi indiciado pela guerra na região de Darfur.

Colaborou DIOGO BERCITO, de São Paulo

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.